Cena do espetáculo Livres e Iguais

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 15.11.2013

Barra

Peça brinca com os desafios da convivência

Livres e Iguais, em cartaz na zona leste de São Paulo, recupera e reforça o sentido da Declaração Universal dos Direitos

Uma nova montagem de Livres e Iguais, texto escrito no fim dos anos 1990 por Perito Monteiro, já falecido, está ocupando este ano os palcos de São Paulo. A peça já foi bastante encenada pelo Brasil, como, por exemplo, em uma versão do grupo Teatro sim… Por que não?, de Florianópolis, que teve uma merecida longa carreira.

Inicialmente apresentada em curta temporada no Teatro Ressurreição, no bairro paulistano do Jabaquara, agora Livres e Iguais está no palco do Teatro Zanoni Ferrite, na Vila Formosa, Zona Leste. O maior atrativo, desta vez, é o elenco, formado por Ando Camargo, Olívia Araújo, Paulo de Almeida e Rennata Airoldi. Os quatro atuam com muito entrosamento, garra e vontade de fazer o melhor, aceitando com disposição e talento o que parece ter sido o desafio proposto pela diretora Fabíola Moraes: impregnar as interpretações de gestos, comportamentos, falas e sugestões arquetípicas da evolução da espécie humana.

Nesse afinado quarteto, Ando Camargo (de Era Uma Vez Um Rio e O Soldadinho e a Bailarina, entre outros), talvez o mais experiente, acaba ganhando um destaque um pouco maior, por esbanjar um incrível carisma com a plateia, na pele do personagem mais conflituoso, brigão e individualista, quase como se fosse o vilão da história. Ele estimula na medida certa a reação das crianças da plateia, que se manifestam contra ele euforicamente durante todo o espetáculo e, ao final, ficam extasiadas com a virada de seu personagem, que se humaniza e aprende a lição de como viver em grupo. Na sessão a que assisti, no domingo passado, até os adultos participavam e, melhor que tudo, uma garotinha se manifestou, após os aplausos, dizendo ao elenco que aprendeu com a peça “a não ser egoísta”. Foi tocante.

Com dramaturgia inspirada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, o espetáculo poderia facilmente cair no tom de lição de moral. O risco é realmente grande e, em alguns momentos, parece que a peça vai se encaminhar para isso, com o texto resvalando pelos limites da catequese professoral. Porém, espertamente, a montagem se salva desse perigo, graças a bons subterfúgios da encenação, que privilegia o lúdico e o simbólico, evitando o explícito e o didático. Forte aliada é a cenografia criativa, assinada por Kleber Montanheiro, que também cuidou muito bem da iluminação do espetáculo. Você vai adorar a árvore estilizada criada por ele e valorizada pelos jogos de luz.

Nesse mundo de preconceitos arraigados e bullyings cada vez mais cruéis, prestigie Livres e Iguais com toda a família. Não importa qual a sua idade: nunca é demais (re) aprender o valor do respeito, da solidariedade e da amizade.

Serviço

Teatro Zanoni Ferrite
Av. Renata, 163, Vila Formosa, São Paulo
Telefone: (11) 2216-1520
Sábados e domingo às 16h
Ingressos a R$ 10
Só até o dia 24/11