Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – Out 1995
Ética sem a chatice do politicamente correto
O espetáculo A Lei e o Rei, em cartaz no Espaço III do Teatro Villa-Lobos, é uma sátira ao que o Brasil tem de pior: a corrupção, o desleixo e os mandos e desmandos que, historicamente, se repetem por quem esta no poder. E nas mãos da autora Teresa Frota – que ganhou no ano passado os prêmios Mambembe e Coca-Cola pelo melhor texto com Viravez, O Cortês – o pior vira o melhor do teatro infantil e ganha ares de fábula. Novamente demonstrando sua inegável habilidade com as palavras, Teresa situa sua peça num país de reis e príncipes para falar, com humor e agilidade, sobre velhos problemas. De quebra, a autora deixa uma mensagem: hoje, como ontem, continua tudo igual e, se mudar não é fácil, pior é não tentar fazê-lo.
Nada, porém, que cheire a didatismo e chatices politicamente corretas. O espetáculo é pura diversão e é delicioso ver no palco o ator Marcello Caridade encarnando o vaidoso rei Mássimo, ursupador de tronos, capaz de subornar o povo com a construção de uma piscina pública e pai de dois filhos que não são modelos de perfeição. O príncipe Lindomais (Raul Serrador), como o nome indica só enxerga o espelho à sua frente. E Belamenos (Ricardo Santos), além de feio, é quase analfabeto. A própria Teresa, está no palco como Anacléia, irmã do rei. Destacam-se ainda Arildo Figueiredo como Hediondo, ajudante do rei e Jacyan Castilho como Olinéia, filha do rei destronado. Eisenhower Moreno e Isio Ghelman completam o elenco.
Com ritmo perfeito, resultado da direção precisa de Henri Pagnoncelli, o espetáculo flui tranquilo e provocando gargalhadas. Figurinos impecáveis músicas que fogem do óbvio, feijão-com-arroz completam este mais que recomendável espetáculo.