O espetáculo é divertido e utiliza recursos de linguagem corporal. Fotos: Rafael Bis Bis

A peça tem números básicos de ilusionismo

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 02.06.2017

Brincando com espaço e tempo na alfaiataria do João

Espetáculo da cia. carioca Etc. e Tal usa a mímica e a cenografia para iniciar as crianças nas noções de espacialidade

João Mata Sete é um personagem conhecido dos contos recolhidos da tradição oral popular. O jovem alfaiate mata sete moscas de uma vez só e fica com fama de valentão, porque pensam que ele matou sete bandidos (em vez de sete moscas) e passam a requisitá-lo para feitos heroicos. O Alfaiate Valente, o conto de fadas propriamente dito, foi compilado no livro Contos para a Infância e para o Lar, dos Irmãos Grimm. E ganhou o mundo em várias linguagens. No cinema, virou um curta-metragem dos Estúdios Disney, Brave Little Tailor. E até para os eternos fãs do programa de televisão do personagem Chaves, Roberto Bolaños adaptou essa história em quatro episódios para o Chapolin Colorado, chamando-os de El Sastrecillo Valiente.

O personagem agora está também de volta ao teatro. Com direção de Alvaro Assad, o espetáculo João o Alfaiate – Um Herói Inusitado cumpre temporada em São Paulo, no Sesc Pompeia, até 18 de junho – um trabalho inédito da cia. Etc e Tal, do Rio de Janeiro. É divertido, bem produzido e magnificamente bem interpretado. A técnica mais usada na companhia é a da mímica. A linguagem corporal é o forte da peça. Não deixe de reparar nisso. Os corpos falam.

João Mata Sete é um personagem conhecido dos contos recolhidos da tradição oral popular. O jovem alfaiate mata sete moscas de uma vez só e fica com fama de valentão, porque pensam que ele matou sete bandidos (em vez de sete moscas) e passam a requisitá-lo para feitos heroicos. O Alfaiate Valente, o conto de fadas propriamente dito, foi compilado no livro Contos para a Infância e para o Lar, dos Irmãos Grimm. E ganhou o mundo em várias linguagens. No cinema, virou um curta-metragem dos Estúdios Disney, Brave Little Tailor. E até para os eternos fãs do programa de televisão do personagem Chaves, Roberto Bolaños adaptou essa história em quatro episódios para o Chapolin Colorado, chamando-os de El Sastrecillo Valiente.

O personagem agora está também de volta ao teatro. Com direção de Alvaro Assad, o espetáculo João o Alfaiate – Um Herói Inusitado cumpre temporada em São Paulo, no Sesc Pompeia, até 18 de junho – um trabalho inédito da cia. Etc e Tal, do Rio de Janeiro. É divertido, bem produzido e magnificamente bem interpretado. A técnica mais usada na companhia é a da mímica. A linguagem corporal é o forte da peça. Não deixe de reparar nisso. Os corpos falam.

Aliás, o que mais me chamou a atenção na montagem é o quanto se trata de uma incrível experiência de ‘espacialidade’. O casamento bem pensado da cenografia com as chamadas ‘marcações’ dos atores valoriza o tempo todo o espaço físico do palco, brincando inclusive com as noções de bi e de tridimensionalidade. Chega a ser um recurso refinado, sofisticado, embora a direção não perca nunca de vista as intenções lúdicas. Professores de artes visuais, por exemplo, podem ‘trabalhar’ a peça com seus alunos puxando para esse lado: o jeito como uma obra se relaciona com o espaço físico.

Por exemplo, na primeira vez que o alfaiate é levado ao castelo do rei, a ‘viagem’ de carroça parece interminável, retratada demoradamente, nos mínimos detalhes. Ao contrário, a volta para sua alfaiataria se dá em dois segundos, bastando mover uma das ‘dobras’ do cenário. Isso é muito bem feito e mexe realmente, na cabeça das crianças, com as noções de tempo e espaço. É fundamental, portanto, como peça de iniciação artística. O uso de números básicos de ilusionismo também auxilia na tarefa de ‘brincar’ com o espaço, como nas ações de aparecer/desaparecer.

Não é à toa que as ‘dobras’ são utilizadas várias vezes na peça. No programa do espetáculo, ficamos sabendo que o grupo procurou traduzir cenicamente a expressão “dobrando a esquina, é logo ali”. A meu ver, conseguiu – e com louvor. É como se a peça fosse ela própria uma dobradura, ou uma forma divertida de “dobrar esquinas”. O cenário, em alusão a uma caixa de costura do alfaiate, é dobrado e desdobrado várias vezes ao longo da peça. Lembra também um grande livro com as páginas sendo viradas – o que é sempre uma homenagem linda a ser fazer à literatura. Criatividade a toda prova, do trio que assina o texto, a concepção cênica e que também compõe o elenco de mímicos-atores-clowns: Álvaro Assad, Marcio Moura (divertidíssimo como o rei) e Melissa Teles-Lôbo.

Em suma, João o Alfaiate – Um Herói Inusitado, da Cia. Etc. e Tal, é um divertido exemplo de como tirar proveito da cenografia como recurso narrativo, ou seja, a peça ainda ganha o atrativo extra de ser ideal também para aspirantes a cenógrafos. Vá e preste atenção nisso. Ah, e tem mais: a música original de Joaquim de Paula também merece menção. É um belo tributo às trilhas melódicas cadenciadas, dos primórdios da Commedia dell’Arte.

Serviço

Teatro do SESC Pompeia
Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo
Telefone: (11) 3871-7700
Sábados e domingos, às 12h (meio-dia)
Ingressos: Grátis para crianças até 12 anos. R$ 17,00 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes), R$ 8,50 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 5,00 (inteira)
Classificação indicativa: Livre
Temporada: 6 de maio a 18 de junho de 2017