Suzie Thompson e Marcelo Miranda são os intérpretes de João e Maria, em cena no Teatro da UFF.
Foto de Marcelo Ribeiro

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 09.01.1993

 

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Doce em lugar de chocolate

Os estudiosos da literatura infantil parecem ter um assunto predileto, que vez por outra volta a ser discutido o enredo sempre cruel dos contos de fadas. Mas tais enredos, se comparados ao noticiário da atualidade, no que diz respeito a violência cometida contra crianças, fazem as madrastas da ficção parecerem apenas velhinhas corocas e desmioladas as voltas com seus problemas domésticos. Numa coisa, entretanto, a ficção leva vantagem sobre a realidade. Nela, o personagem, de uma maneira ou de outra, acaba por reverter à maldade em seu proveito e, por menos que se queira admitir, esse é um final feliz.

João e Maria, cartaz do teatro da UFF, em Niterói, é uma história mais do que conhecida do público infantil. A peça tem adaptação e direção de Marcello Caridad, com um toque nordestino, que troca a fria floresta de Hezel e Gretel pela tórrida caatinga de Lampião. Sem exageros na crença de que “o sertanejo é antes de tudo um forte”, os personagens se divertem, substituindo a convencional casinha de chocolate por uma de doce de abóbora e rapadura, sem, no entanto apelar para outras modernidades desnecessárias, que acabariam por diluir o clima mágico da história.

Susie Tompson e Marcelo Miranda interpretam a dupla-título com marcantes diferenças em relação aos personagens originais. Se, no conto de Perrault, João tem todas as ideias e a Maria cabe acatá-las, nesta versão a mocinha abandona a condição de coadjuvante e parte em busca de soluções mais práticas. Num desses achados de interpretação, a atriz constrói o personagem sem transformar o enredo numa guerra dos sexos.

Anja Bittencourt e Marco Rezek dão a seus papéis, o saboroso tempero do humor. Ela, uma arretada esposa, usa de sedução para que o marido se livre dos pimpolhos do primeiro casamento. Ele, um tocador de violão, tipo sonhador, acaba não percebendo as manobras da megera. Ambos estão muito bem em suas caracterizações. Costurando a história, a trilha sonora de Luciano Pozzino, executada ao vivo pelo autor, embala a encenação, num feliz desfecho para o palco e plateia.

Cotação: 2 estrelas (Bom)