Carta publicada em O Globo – 2º Caderno
Por Caíque Botkay – Rio de Janeiro – 11.01.2010
Estreante em cartas a jornais, creio que posso contribuir com um importante assunto muito pouco abordado; a dramaturgia no teatro para a infância e a juventude. À vontade de escrever me ocorreu ao ler um trecho da crítica da estimada Sra. Bárbara Heliodora a respeito da peça A Marca do Zorro. O trecho em questão diz: “(a criação do espetáculo)… é toda realizada em tons exagerados e/ou caricatos mais característicos do teatro infantil, onde a superficialidade na composição dos personagens é a norma”.
Comecei a trabalhar em teatro em 1974, na peça Histórias de Lenços e Ventos, de Ilo Krugli, que teve belas críticas de Yan Michalski e de Ana Maria Machado, ela própria autora de livros que a conduziram ao prêmio Hans Christian Andersen do ano 2000. Somos dos raros países a ter duas agraciadas, também com Lygia Bojunga Nunes em 1982.
Creio na urgência de que, cada vez mais, possamos transformar o que pode ter sido considerado superficial nos anos 1940. Temos obras sérias e reflexivas. E, quanto à “norma” descrita, posso, além dos nomes já citados, falar de Maria Clara Machado, Sylvia Orthof, João das Neves, Tonio Carvalho, grupos Hombu. Sobrevento, Navegando e tantos outros. Mas é importante ressaltar outras iniciativas, como o Cepetin, CBTIJ, o Centro de Referência do teatro Infantil/ Teatro do Jockey, o incentivo do SESC e o grupo Ventoforte em São Paulo. Para quem quiser comprovar o alto nível de nosso teatro para a infância e a juventude, recomendo as peças O Milagre do Santinho Desconfiado, Ogroleto, O Cavalinho Azul, A Mulher que Matou os Peixes e outros Bichos, de Clarice Lispector e outras. A lista é grande.
Para terminar, cito a brilhante frase de Stanislawsky “O Teatro para crianças é como o teatro para adultos, só que melhor”.