Paulo Samour, Anita Terra e Marcus Vinicius: mais calor humano em A Idade do Sonho

Crítica publicada no Jornal O Globo
Sem Identificação – Rio de Janeiro – 15.03.1985

A Idade do Sonho:  Os Ciganos de Volta, com o Teatro Feliz Meu Bem

Estreia amanhã no Teatro Cacilda Becker, a peça A Idade do Sonho, com o Teatro Feliz Meu bem, liderado por Tonio Carvalho. O grupo iniciou suas atividades em 1980, com a montagem de As Três Luas de Junho e uma de Julho, trabalho de Tonio Carvalho, primeiro prêmio do Concurso de Dramaturgia do INACEN, que em 1981 deu ao grupo o Troféu Mambembe na categoria de autor e o prêmio INACEN como um dos cinco melhores espetáculos do ano. Desde então, as realizações do Feliz Meu Bem foram pontuadas de prêmios: em 82, Tonio Carvalho ganhou os primeiros prêmios do Concurso de Dramaturgia Infantil, do INACEN com História de um Dia e Seis Lenços, e do Concurso de Dramaturgia para Bonecos do Rio Arte, com Os Mistérios do Boi Surubim; em 1983 Tonio Carvalho novamente ficou com o primeiro prêmio do Concurso de Dramaturgia para Bonecos do INACEN com Dona Florzinha que não se Cheira e Firmino Papa-Tudo na Rua do Sobe e Desce à Caminho do Juízo; além disso, a montagem de As Sete Quedas do Meu Pobre Coração deu ao grupo o Troféu Mambembe pela continuidade de seu trabalho e a pesquisa de linguagem de atores e bonecos .

Em 84, Tonio Carvalho mais uma vez ficou com dois prêmios: Mariazinha do Bole-Bole foi o primeiro colocado no Concurso de Dramaturgia do INACEN; e O Pequeno Circo dos Pequenos, escrito em parceria com Adhê Oliveira, foi o texto escolhido pela Rio-Arte para a tradicional montagem de Natal nos Arcos da Lapa. Incansável, Tonio já conseguiu este ano o segundo prêmio do Concurso de Dramaturgia Infantil do INACEN, por Romanceiro de Sonhos; e Adhê de Oliveira, com Viagem ao Coração da Cidade ficou com o terceiro lugar.

A Idade do Sonho também é um texto de Tonio Carvalho e marca a estreia do ator Vicente Maiolino na direção do Teatro Feliz Meu Bem, nessa montagem em que assina, uma vez mais, cenários e figurinos. Diz Vicente:

– Levamos dez meses preparando A Idade do Sonho para poder integrar os novos componentes do grupo com a nossa linguagem: poética, delicada, ligada às raízes brasileiras, tentando resgatar a memória de um Brasil esquecido e a nostalgia das cidades do interior e dos subúrbios, através de atores e bonecos.

Apesar de ser um grupo com poucos anos de atividade, o Feliz Meu Bem, conforme explica o próprio Tonio Carvalho, já encontrou seu público, “gente que busca uma expressão artística mais autêntica, quer viver intensamente seus sentimentos e emoções e procura explicações para os fatos da vida”. É para esse público, com idade a partir de cinco anos, que Idade do Sonho se propõe a contar uma história que mescla lembranças e fantasias do tempo em que saltimbancos, ciganos e circos mambembes passavam pelas cidades do interior e pelos subúrbios de algumas cidades grandes.

O trabalho de direção de Vicente Maiolino foi calcado em suas experiências de garoto criado no interior de Campos, no Estado do Rio: ali, num grande terreno atrás da casa de sua avó, costumavam acampar caravanas de ciganos e vários circos.

O clima do espetáculo, que sugere um filme de Chaplin numa matinê de domingo de cinema poeira, fica ainda mais acentuado pela música ao vivo da peça, com piano, flauta e violino.

Diferente das montagens anteriores do Feliz Meu Bem, até então muito alegóricas e plásticas, com muita música, bonecos e adereços, cenários e figurinos, A Idade do Sonho, segundo seu diretor, sustenta-se no trabalho do ator e na emoção lançada sobre a plateia. Diz Vicente Maiolino:

– Existe atualmente uma frieza generalizada nas relações humanas: a afetividade, o encantamento, o namoro, estão se perdendo, com o esvaziamento das emoções. A razão de ser A Idade do Sonho é resgatar o calor humano.

Ficha Técnica

Autor: Tonio Carvalho
Direção, Cenário e Figurinos: Vicente Maiolino
Direção Musical: Raquel e Patrícia Durães
Músicas: Raquel Durães
Letras: Tonio Carvalho
Bonecos: Ana Deveza e Jena Kopelman
Iluminação: Marcus Vinícius, Ana Deveza e Vicente Maiolino
Adereços e Produção Geral: Teatro Feliz Meu Bem
Músicos: Patrícia Durães, Rogério Rosa e Cláudia Reis
Elenco: Ana Deveza, Anita Terrana, Marcus Vinícius, Maria Beatriz, Paulo Samour e Vicente Maiolino