Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 05.10.1991
Um espetáculo que chega como o circo
Chegar com antecedência a um encontro marcado pode ser revelador. Ou se confirma o dito popular “sempre se espera pela pior figura” ou o inesperado da situação se transforma numa grata surpresa.
Concebida para o espaço aberto do Teatro Mercado São José, A História de Tony e Clóvis começa muito antes do terceiro sinal. Assim, o espetáculo tem o cunho das aparições, como a chegada de um circo as cidades pequenas, daqueles que chegam pela madrugada, quando não existe nada e surgem triunfais na manhã seguinte.
A concepção teatral e a direção de Carlos Augusto Nazareth proporcionam ao espectador desvendar essa magia ou mesmo dela participar, quando sem muito alarde os operadores da companhia começam a montar arquibancada, o picadeiro, e finalmente uma cidade inteira que acolherá o circo.
O encontro de Tony e Clóvis (Mateus Esperança e Wilson Belém) mostra personagens opostos no jogo, ingênuos x espertos, tirando o melhor das antigas gags circenses para contar histórias alegres e tristes, onde o melhor não está no texto de Augusto Nazareth, que interpretam, já que este se configura como apenas um tênue fio condutor da ação, mas no modo como o interpretam.
A História de Tony e Clóvis chega ao picadeiro cercada por uma produção em seu conjunto de muito bom gosto, onde Mirella Nocera concebe seu figurino inspirada na commedia dell’arte, numa sensível mistura de brilho e cor. A música de Marco Aurê, a luz de Rogério Wiltger e a cenografia de Alexandre Pring compõem um espetáculo que passeia pelo circo, teatro e cinema, através do que cada um deles deixou de mais querido na nossa memória.
Cotação: 2 estrelas (Bom)