Crítica publicada nos jornais Shopping News / City News
Por Suzete de Almeida – São Paulo – 30.04.1989
Uma ópera com cara de videoclipe. Para crianças
Efeitos de luz especiais, cenários arrojados, belo figurino e uma movimentação de palco que lembra a velocidade dos videoclipes. Em cena, doze premiados atores, divididos na tarefa de levar à plateia um espetáculo de qualidade. E não é nenhuma produção internacional, muito ao contrário, trata-se da montagem de uma ópera popular, e pasmem, dirigida especialmente para o nosso público infanto-juvenil.
O responsável pela façanha é o Núcleo Zambelê que acaba de estrear, Guaiú, A Ópera das Formigas, desde ontem no palco do Teatro Caetanos de Campos, trazendo a história de um desajeitado herói que quer alegrar a vida de um sisudo formigueiro mesmo sabendo que, para tanto, precisa enfrentar as determinações da rainha do pedaço.
Isso é passado ao público em 41 minutos totalmente coreografados e cantados conforme manda a tradição da ópera, com árias e coros onde se destacam quatro solistas. No fim, um espetáculo leve já apresentado a título experimental em duas escolas de periferia da Capital. Deixando crianças e adultos totalmente encantados.
Pelo menos é o que afirma Jamil Dias, que assina a direção de Guaiú, termo proveniente da língua Tupi significando barulho ensurdecedor, alarido, além de designar uma espécie de formiga existente no interior do Brasil.
Ideia antiga
Conforme conta, a ideia de montar a ópera partiu de Marcos Arthur (diretor musical do espetáculo) após a leitura do libreto do jornalista Sílvio Ferreira Leite, A Explosão do Formigueiro. “Essa vontade de fazer ópera para crianças já era antiga e quando Marcos achou o texto certo, o próximo passo foi a escolha dos atores, em janeiro deste ano.” Se a intensão era fazer algo de qualidade, não deixaram por menos. Começaram por convidar o ator Eduardo Silva (Bailei na Curva e Peter Pan) e Lizette \Negreiros, atriz que sempre se destacou na luta em prol do nível de nosso teatro infantil e que entre outras coisas, preside a Associação Paulista de Teatro para a Infância e Juventude. O resto da equipe reúne, igualmente, gente da pesada na área infanto-juvenil.
Em seguida, a batalha por um espaço adequado. Após idas e vindas decidiram pelo Caetano de Campos onde terão espaço exclusivo até agosto. \o custo total da produção foi estimado em NCz$ 26 mil conseguidos em parte pelo apoio da Probus, Indústria de Comércio de Papel, que deu condições para o pessoal começar a trabalhar. O restante está sendo aguardado por conta da Lei Sarney.
Preconceito
Tanta preocupação com o item qualidade tem um motivo especial, ainda segundo Jamil: a ideia que muitos possuem de que teatro infantil é um gênero menor: “Nossa intenção é desmistificar esse conceito que não vem de hoje. Mesmo porque amadorismo, atores inexperientes e falta de cuidado artístico não acontecem, conforme dizem, só no teatro infantil, mas em outras áreas também. Há muito preconceito”, diz.
A certeza que Gaiú, a Ópera das Formigas vai agradar em cheio a criançada parte de um fator determinante: a de que a criança de hoje tem uma visão do mundo muito dinâmica, não aceita mais qualquer coisa, e não raro, muitas das peças infantis subestimam a capacidade dos baixinhos. Outro ingrediente a favor é que é um espetáculo inteiramente cantado. Na visão do Núcleo Zambelê uma linguagem bem mais próxima do mundo infantil.
Serviço
Guaiú, a Ópera das Formigas, de Marcos Arthur e Sílvio Ferreira Leite e direção de Jamil Dias e direção musical de Marcos Arthur. No elenco, Eduardo Silva, Lizette Negreiros, Luiz Ferrari, Márica Ruzzardi Aldo Avilez, Antônio Miranda, Cibele Troyano, Cleide Queiroz, Edgard Campos, Evinha Sampaio, Fernando Petelinkar, e Valência Santos.
No Teatro Caetano de Campos, Praça da República, 53
Sábados e domingos às16 horas, com ingressos a NCz$ 3,00 e NCz$ 1,5