Vania Alexandre e Marcelo Silveira em Gnomos – Mais que uma lenda: boa cenografia


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 14.08.1993

 

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Cenário para a Magia

O começo é bárbaro. Em Gnomos – Mais que uma Lenda, quando o enorme paneau de retalhos que cobre o palco do teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil é suspenso, o espectador se depara com uma inesperada floresta onde pai e filho viajam num bugre pela noite adentro.

A cena impactante dá início à história do gnomo Glon, ainda representado por um boneco manipulado que pede ao viajante uma ajuda para libertar seu filho Zigor das mãos dos terríveis Trolls, uma espécie de habitantes das cavernas, nada hospitaleiros. No decorrer do percurso, o viajante é representado por enormes adereços cênicos que focalizam suas pernas e pés em tamanho desproporcional ao gnomo, até que atrás da magia, se igualam em altura, cabendo ao cenário destacar as proporções dos personagens.

O texto de Márcio Augusto tem como tema os seres elementais (gnomos, fadas e duendes), super utilizados pelo consumo esotérico, ligado a preservação das florestas, sem, no entanto, levantar a desgastada bandeira “crianças salvem o verde”. Os cenários de Cristina de Lamare se revelam bem cuidados e criativos. Concebidos como um jogo de dobraduras em cartonagem, a cenografia vai mostrando as casas dos personagens e a floresta com riqueza de detalhes. Já os figurinos, também da cenógrafa, seguem uma linha desigual, quebrando o equilíbrio, quando veste a fauna (faisoa, coelha e pica-pau) com trajes por demais alegórico.

A direção de Márcio Augusto carece apenas de um pequeno acerto na cena dos animais. Destoando do resto da concepção do espetáculo, onde tudo se encadeia muito bem, a referida cena torna-se inconsciente, com perigo de descambar para o teatro de variedades em exageradas performances de humor duvidoso.

No restante da encenação, o elenco se mostra harmonioso, conseguindo interessantes momentos cênicos. Leonardo Franco faz um convincente mortal às voltas com os inusitados elementais. Vânia Alexandre empresta seu humor e pshsique du role a Olie, mãe gnomo Zigor (Theo Machado). Flávia Monteiro (Beatriz) e André Pimentel (Salgueiro Chorão) dão um toque romântico a peça, enquanto Jaime Berenguer e Suely Franco interpretam os Trolls, se fazendo entender com gestos bem marcados e grunhidos. Ficando apenas desperdiçadas as cenas em que a atriz, famosa por seu potencial vocal e musicalidade, dubla a si mesma na criativa musical de Mauro Perelman.

Gnomos – Mais que uma Lenda tem ainda adequadas coreografias de Totia Meirelles e iluminação de Aurélio di Simoni, se revelando num gostoso entretenimento, inclusive para crianças menores, que por certo apreciam os bem colocados elementos cênicos e atraentes personagens que compõem o espetáculo.

Cotação: 2 estrelas (Bom)