Cartaz de Pluft, o Fantasminha, dirigido em 1961 por Romain Lesage, cuja cópia nova será vista a partir de hoje em Florianópolis

Pluft (Dirce Migliaccio) nos anos 70, a atriz levou as aventuras do fantasminha para a televisão

Matéria Publicada no Jornal O Globo
Por Eduardo Simões – Rio de Janeiro – 11.07.2003

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Filme de 1961, com Dirce Migliaccio, será visto em cópia nova na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis

Uma das duas únicas adaptações da obra de Maria Clara Machado para o cinema, Pluft ,o Fantasminha, filme dirigido em 1961 por Romain Lesage e estrelado por Dirce Migliaccio, acaba de ganhar uma cópia nova, patrocinada pela 2ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, que o exibe hoje, em sua abertura, a partir das 14h30m. E, se depender de “São Patrocínio”, as aventuras do fantasminha que tinha medo de gente podem chegar ao mercado de VHS e DVD em breve.

Um tanto esquecido, o filme foi o primeiro longa-metragem colorido revelado no Brasil. E tem um dos mais ricos e inusitados elencos que uma câmera já registrou no país: em cena, aparecem não só atores e atrizes profissionais, como Nelson Dantas, Fábio Sabag e Kalma Murtinho, como o palhaço Arrelia, os humoristas Jô Soares e Agildo Ribeiro, e o mais curioso – Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Sérgio Ricardo, os três responsáveis pela trilha sonora do filme.

Pluft é um pedaço importante da cinematografia brasileira. O filme foi feito numa época em que a estética era a do Cinema Novo, e ele ficou sendo uma espécie de outsider, conta o diretor de fotografia Christian Lesage, filho de Romain, que acompanhou os trabalhos de cópia do filme do pai.  – Não foi um sucesso retumbante, os cinema-novistas fizeram um movimento fizeram um movimento contra, porque era filme infantil colorido e ainda por cima tinha piratas. O filme teve críticas refratárias e uma reação forte da intelectualidade da época, apesar dos “pensantes” que estavam em cena.

Ciumenta, Maria Clara gostou, mas nem tanto

Segundo Lesage, o filme não teve uma repercussão tão boa também porque Maria Clara Machado não havia aprovado a adaptação, pois era muito ciumenta com sua obra. A atriz Cacá Mourthé, neta de Maria Clara, atesta os ciúmes da avó, mas conta que ela havia achado a versão de sua peça para o cinema engraçada.

– O Lesage era amigo de meu avô. Mas a minha avó era realmente muito ciumenta, principalmente com Pluft, A Menina e o Vento e O Cavalinho Azul, que o Eduardo Escorel filmou em 1984. Acho ótimo que haja uma cópia nova, diz a atriz. – Só me lembrava da versão para a TV, com a Dirce, a Norma Blum e a Zilka Salaberry.

Além das canções compostas pela própria Maria Clara para a peça, escrita nos anos 50, o Pluft da telona tinha músicas de Tom Jobim, e letras de Romain Lesage.

– A trilha é simpática, nunca foi lançada em disco. Mas tem musiquinha ali que podia até passar para a peça – avalia Paulo Jobim, lembrando da canção sobre o Pirata Perna-de-Pau e de outras orquestradas para as batalhas. – Tinha uma para a cena com os piratas, que são meu pai, o Vinicius, o Paulo Mendes Campos, etc. Uma turma enorme tomando uísque numa mesa. A cena é uma farra.

Não só farra, mas também soldo. De acordo com Christian Lesage, a chamada “turma de Ipanema” nada ganhou pelas participações especiais.

– A filmagem virou um happening. As pessoas iam de farra, ninguém ganhou um tostão e o pagamento era em uísque a rodo – conta Lesage, que considera o filme uma superprodução na aparência. – Você olha e parece uma filmagem milionária, com cenas de batalha naval, etc. As finanças do meu pai foram à bancarrota e nós passamos um sufoco depois do filme.

Produzido pela Viação Cine-Castro, filmado num casarão que nem mais existe na esquina das ruas J.Carlos e Jardim Botânico, e na ilha Jurubaíba, perto de Paquetá, Pluft recebeu alguns prêmios, entre eles O Saci, 1964; e o Primeiro Prêmio no Festival Infantil de Santa Bárbara, Estados Unidos, 1966.  Concorrente de bilheteria de O Pagador de Promessas e de As Diabólicas, com Simone Signoret, em 1962, Pluft inspirou, em meados da década seguinte, um seriado produzido pelas TVs Educativa e Globo, estrelado por Dirce Migliaccio, Zilka Salaberry e Norma Blum.

Lesage inventou muito, segundo Kalma Murtinho

Para Kalma Murtinho, Pluft é uma das melhores peças de Maria Clara, sua amiga de infância e parceira de vários trabalhos. Ela relembra seu papel de Mãe Fantasma no filme de Lesage e diz que, na sua opinião, o diretor se afastou do texto original.

– Já participei de sete montagens da peça, muitas vezes assinando o figurino. Pluft já era consagrado no Rio e em São Paulo e as pessoas esperavam muito do filme. O Lesage inventou muitas coisas na história, daí houve um pouco de perturbação. Mas não sem momentos engraçados, como o da turma bebendo na mesa, dos piratas na ilha. De qualquer jeito, é um filme muito bom.

A Festa Infantil de Floripa

A 2ª Mostra de Teatro Infantil de Florianópolis tem abertura oficial às 14h, e às 14h30m será exibida para convidados a nova cópia de Pluft, o Fantasminha. A primeira sessão aberta ao público acontece às 18h com o curta A Aldeia dos Sábios e o longa A Viagem de Chihiro. Amanhã, às 14h, rola a primeira sessão de Pluft para público pagante, precedida do curta Docinhos.

Com atrações programadas no Cineclube Desterro e na Sala Multimídia do CIC, a Mostra de Cinema Infantil realizará oficinas de curtas com crianças de comunidades carentes, para quem vai exibir filmes. Outros títulos infantis brasileiros são destaque, como O Cavalinho Azul, dia 19 às 14h e As Aventuras do Tio Maneco, dia 20 às 14h. Os ingressos custam R$ 3 e a mostra fica em cartaz até dia 27.