Elenco de Formigando tem um desempenho desigual, abusando dos cacos no texto original

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 30.10.1993

Só faltou cortar os excessos

O mito da sociedade perfeita, creditando a formigas e abelhas, sempre rendeu histórias no cinema. Ás vezes a coisa desanda e acontece um ataque de abelhas assassinas, de formigas gigantes e outras catástrofes. Invariavelmente estrelado por atores em evidente decadência, o mundo animal acaba perdendo sua condição de coadjuvante e disputando palmo a palmo com os protagonistas um lugar na tela.

Formigando, em cartaz no Teatro Ziembinski, embora não trate de nenhum desastre ecológico ou cinematográfico,
também comete seus excessos, e perde a grande oportunidade de ser o interessante musical proposto pelo enredo e trilha sonora. Num formigueiro, seis formigas operárias têm seu harmônico cotidiano afetado quando entram em cena as terríveis formigas guerreiras, que além de boa vida querem transformar a comunidade num centro de treinamento de combate. Depois que a rainha, já um tanto omissa, é presa, as coisas ficam insuportáveis. Assim, Clementina, Creuza, Cleonice, Cremilda, carmelinda e Carmelita, assumem o comando, fazem greve, boicotam o fornecimento de alimentos, libertam a soberana e, enquanto esta não se recupera totalmente, vivem seus quinze minutos de glória com o povo no poder.

A direção de Sérgio Coelho, também autor do texto, cenários e trilha sonora, segue a linha bem-humorada dos musicais da Atlântida, onde o pessoal pegava no pesado sempre ao som de um ritmo rebolativo. Mas se para o espetáculo Sérgio consegue um tom harmonioso, o mesmo não acontece com sua direção de atores. Mesmo que em sua maioria o elenco esteja correto em cena, Sérgio Coelho deixa que alguns atores brinquem com seu texto, usando cacos de humor duvidoso, ou mesmo que componham personagens com gestos e linguagem que fizeram famosos as chamadas caricatas, precursoras da drag queens, nos shows de boates. Apelos, como “abandona este corpo que não te pertence”, simulação de incorporação espiritual, e adjetivos tipo poderosa, maravilhosa, colocada, por certo não fazem parte do universo infantil, mas deliciam as titias da plateia.

Apesar das escorregadas em brincadeiras particulares, e da inserção do estilo cover – uma mulher que imita um homem que imita uma mulher – no formigueiro, Formigando tem seus atrativos. Os figurinos de Jefferson Miranda são simples e criativos conseguindo fugir da caricatura do bichinho de teatro infantil. De muito bom gosto, os cenários de Sérgio Coelho surgem de um platô em forma de losango formando vários ambientes-surpresa, assim como suas composições musicais estão perfeitamente integradas a ação do espetáculo. Com arranjos de Charles Kahn e Guilherme Hemolin, a trilha sonora é um ponto alto do espetáculo.

As boas surpresas no elenco ficam por conta dos guerreiros Ricardo Santos e André Dias, feitos com impecável comicidade, e de Jorge Maya quando não exagera. As operárias, Márcia Favilla, Vera Novello, Cacau de Gondomar, Camila e Marcela Caputti dão especial graça ao formigueiro, especialmente a última que se revela, aos sete anos, uma bailarina “da pontinha”.

Formigando, cortado os devidos excessos, tem todas as chances de se tornar um gostoso musical.
Formigando está em cartaz no Teatro Ziembinski aos sábados e domingos às 17h.

Cotação: 1 estrela (Regular)