Filme Triste: uma visão irônica e respeitosa da juventude dos anos 60. Foto Ary Brandi

Crítica publicada no Jornal Folha de São Paulo
Por Jefferson Del Rios – São Paulo – 08.06.1984

Barra

Namoro e política nos anos 60

O espetáculo, realizado por gente muito jovem, pretende contar como era a vida, os usos e costumes das pessoas que, hoje, estão na casa dos 40 anos. A visão de Capella, autor e diretor, e companheiros de elenco, é delicada, respeitosa ainda que vagamente irônica. Eles querem mostrar “juventude, amor traição, no painel histórico dos conturbados anos 60”.

Filme Triste é, portanto, a recriação sentimental dos tempos do vestido tubinho, do laquê, do carro Sinca e das festinhas movidas a Cuba Libre e Hi-Fi. Dias em que o país vivia os governos JK-Jânio-Jango, e ao som de Nat King Cole, Chubby Cheeker, Cely Campelo e da Bossa Nova. Material fartíssimo, doce, fácil de usar para efeitos reminiscentistas. Esta parte demonstrativa da obra é a mais bonita e convincente do espetáculo e segue uma tradição evocativa que, em teatro já se manifestou em peças como Somos Todos do Jardim da Infância, de Domingos de Oliveira; Chuvas de Verão, de Timochenco Wehbi e o recente Besame Mucho, de Mario Prata.

Vladimir Capella, curiosamente, não tem nada a recordar. É jovem demais ao ponto de ver os anos 60 como algo antiquíssimo. E por ter este olhar extremamente juvenil sobre o Brasil de 60, fez um espetáculo que serve para quarentões e adolescentes. Na realidade, certos comportamentos básicos não mudaram. Os namoros escolares, infanto-juvenis, continuam nascendo do mesmíssimo jeito tímido, os encantos e seduções se processam com as velhas encenações: presentinhos e elogios desajeitados. Se existe evidente liberalidade de ordem sexual, o que é bom, a inovação não anula as ansiedades e deslumbramentos das primeiras paixões. Capela fala disso.

O dramaturgo pretendia, porém, ir mais longe e levar o público a meditar na importância deste curto período (61/64) para a compreensão da realidade brasileira. Intensão elogiável, mas convém esquece-la. Capella, até recentemente, não tinha nem mesmo a certeza se João Goulart estava vivo ou morto. É típico de setores da sua geração. O drama político, consequentemente, é posto em cena de modo distanciado, em terceiro plano. É sintomático também que tais fatos sejam recordados sem nenhuma fala dos personagens, aparecendo unicamente através de faixas e cartazes. História muda.

O que prevalece, agrada e convence é o saudosismo resultando em teatro despojado e envolvente. O elenco extenso e pouco experiente. O elenco extenso e pouco experiente não permite destaque (mesmo assim vale lembrar Dani Patarra, Ju Rodrigues e Valnice Vieira fazendo o possível embora ddeslocada no papel). Filme simpático com jeito de sucesso. Para a turma das danceterias ou do twist.

Serviço

Filme Triste

Texto e direção: Vladimir Capella, Cenário Carlos Pazetto, Figurinos, Valnice Vieira. Um espetáculo do Grupo Pasárgada. Com Dani Patarra, Jú Rodrigues, Marcos Favareto, Valnice Vieira, Susane Walker, Vera Alice Zimmerman. Até domingo no Teatro Paulo Eiró. A partir do dia 16 no Teatro Aplicado.