Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 27.07.1991

Barra

Harmonia feita de simplicidade

Existem nesta cidade teatros que estão definitivamente marcados. Seja por seu público cativo, seja por se tornarem verdadeiros templos do talento de determinado artista.

Não se pode imaginar o falecido Teatro Mesbla sem as comédias de João Bethencourt, ou mesmo o perfumado Maison de France sem Tonia Carrero. No Rival – antes da reforma cultural – estavam as Revistas. O Cândido Mendes, por longo tempo, abrigou o besteirol.

O Teatro Cacilda Becker é um desses casos. Mesmo que por lá tenham passado as mais diferentes produções, desde o musical Chopes Berrantes até o polêmico Nossa Senhora das Flores, o público cruel continua repetindo: “coisas do Cacilda Becker”.

Fala Palhaço do Grupo Hombú, é uma boa oportunidade para o espectador mudar de refrão. Com texto e direção coletiva, Fala Palhaço, mostra um dia na vida de uma família circense e suas tentativas para sair da crise econômica.

O que poderia ser um enredo extremamente banal se revela um achado de simplicidade. O cotidiano dos palhaços é pontuado por ditados populares. Assim, o almoço “beliscado” some da panela, antes de ir a mesa, porque invariavelmente “papagaio come milho e periquito leva a fama”. Quando a “função” termina é que o palhaço tem que mostrar que é de circo. É no dia-a-dia que ele faz mágica e anda na corda bamba, assim como qualquer um de nós.

O texto de Fala Palhaço, concebido em 1979, continua atualíssimo. O Hombú entra em cena afinado com sua proposta de criação coletiva, onde tudo funciona harmonicamente.

Os endereços cênicos constituem um espetáculo à parte. São caixinhas de segredos que se revelam a cada ação. As músicas de Beto Coimbra Botkay, acompanhadas ao vivo por um violão e uma sanfona, fazem um suave contraponto ao espetáculo. A luz de Jorginho de Carvalho tem a delicadeza das lamparinas, completamente adequada ao Circo que está iluminado.

O Hombú de Fala Palhaço está inteiro no palco, onde a estrela da companhia tem cinco pontas: Cadaum, Lambe-Fogo, Come-Come, Trepa-Trepa e Paiaço. Ao contrário de outros circos, esse não tem marmelada.

Cotação: 3 estrelas ( ótimo )