Eros uma Vez: rock dos deuses
Foto Yann Trequesser


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 22.05.1993

 

Barra

Brincadeiras com os deuses do Olimpo

Por mais que o homem tenha criado uma quantidade enorme de engenhocas inventivas, que facilitam sua vida diária, pelo menos duas coisas ele continua perseguindo, ainda que na fantasia: a fonte da eterna juventude e a máquina do tempo. Se o fenômeno ocorre de maneira não intencional e simultaneamente, o resultado é revelador.

No palco do Teatro Ipanema, Eros uma Vez, com texto e direção de Evandro Mesquita, é o que se pode chamar, sem nenhum trocadilho com o povo do Olimpo, um achado dos deuses. Recuperando o que foi melhor do Asdrúbal Trouxe o Trombone, Banduendes por Acaso Estrelados e Blitz, Evandro traz a cena um espetáculo vigoroso, onde o nostálgico toca, sem ferir, os corações com mais de 30 anos de praia, e conquista uma nova plateia com a mesma intensidade. Inspirado na lenda de Eros Psique, o autor não resiste em colocar o seu muito particular humor nas cenas mais inusitadas, sem que com isso deixe de ressaltar o lado lírico de sua criação. Acostumado a trabalhar com uma equipe técnica, o diretor não abriu mão de nenhum elemento de sua criativa equipe. Assim, Ruy Cortes, que já havia operado maravilhas em preto e branco no figurino de Sapatinhos Vermelhos surge num fascinante colorido, onde acrescenta aos trajes românticos adereços de esportes pesados, como capacetes e joelheiras, revelando toda a sua genialidade.

Seguindo a mesma linha, os adereços cenográficos de Cláudio Ricciardi, Eduardo Andrade e Lenora Mesquita criam hilariantes ambientes como o bar móvel de uma cansada madame, ou o poste que já vem acoplado à mocinha de vida irregular.

Num elenco de craques, Íris Bustamante compõe uma mal comportada Psique com natural beleza, assim como Rodolfo Brandão empresta sua bonita, figura a Eros, enquanto Cristiana Mesquita empresta inesperado humor a personagem Afrodite. O mesmo acontecendo com Domingos Alcântara como o narrador.

Marta Jordan e Martha Bazin, como as irmãs Sabrina e Sabruna, Johayne Ildefonso como o sapo, Mário Marques a tartaruga e Álvaro Romero o monkey, são responsáveis pelas deliciosas cenas de ligação que permeiam o espetáculo.

No mais, a precisa iluminação de Maneco Quinderé, e trilha sonora de Cláudio e Márcio Maza, Marcelo Sussekind, Vinícius Cantuária e Evandro Mesquita conferem à encenação o ritmo irresistível do balanço das horas, onde certamente do tempo que passou, só restou o melhor.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)