Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 27.08.1997
Comédia ao gosto de público
No centenário de A Capital Federal, de Arthur Azevedo, nada mais natural que o teatro dos estudiosos voltasse o seu olhar para a obra do autor. Considerado o pai da comédia musical no Brasil. Arthur Azevedo ainda carrega o grande mérito de tirar do teatro o excesso literário e a partir da improvisação espontânea ir direto ao gosto do público. A Cia. Dramática de Comédia, responsável pela montagem de Epaminondas, em cartaz no teatro do Museu da República, parece seguir o mesmo caminho.
Nos seus três anos de existência, a Cia Dramática de Comédia vem fazendo o que ela mesma chama de mix cultural: clássicos da dramaturgia adaptados ao estilo humorístico do grupo. Desse modo já montaram Médico a Força, de Molière, com o nome de A Incrível História do Homem que Bebia Xixi, Volpone, de Bem Jonson, Esconde-Esconde, uma versão de Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Penna. Epaminondas, de Arthur Azevedo, é o clássico da vez.
Partindo de um curtíssimo conto, de apenas três páginas, João Batista, o autor e diretor da companhia, montou o texto levando a ação para os anos 20, ao mesmo tempo que criou uma estrutura de musical inexistente no original. Como se dizia na época, o resultado é da pontinha.
Com um enredo bastante ousado – a apologia da mentira de conveniência – a peça é uma comédia de costumes com todos os detalhes que fizeram o gênero muito apreciado no país: Doutor Lacerda abomina a mentira, por isso deu ao filho o nome de Epaminondas em homenagem a um general grego que jamais mentiu. Assim o menino desanda a dizer a verdade nas horas mais impróprias, criando um quiprocó dos mais agradáveis.
Com um texto cheio de atalhos cômicos, a Cia. Dramática de Comédia está em cena com o melhor da sua performance. Com personagens muito bem construídos e cantando e dançando no rigor da época, o elenco se destaca no conjunto das interpretações. Sônia Praça, Giselda Mauler, Roberto Guimarães, Cid Borges e Eduardo Rieche não deixam seus personagens um só minuto. Principalmente Eduardo, na difícil tarefa de um ator adulto que tem que interpretar no palco uma criança. Seu Epaminondas é cativante
Já com sua marca registrada, a Cia. Dramática de Comédia mais uma vez acerta com cenários de Doris Rollemberg, que transforma o minúsculo palco italiano do museu em vários ambientes apenas com troca de adereços. Contribuindo no truque da magia, a iluminação de Renato Machado, com seus endereços de luz, tem o requinte de criar uma ribalta dentro do palco, com estampas que se modificam conforme a ação: flores para a namoradeira, o símbolo da justiça para o advogado e outras preciosidades. Segundo a linha do espetáculo, os figurinos de Mauro Leite têm a crítica da época nas estamparias aplicadas.
Nessa comédia musical, as marchinhas que acompanham a cena são de Paula Leal e as coreografias, completamente adequadas ao espaço, de Tânia Nardini.
Epaminondas, num tom quase arqueológico, amplia sua faixa de público até a terceira idade. E a plateia se diverte.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)