Trilha musical tem rap, blues, repente nordestino e até funk. Fotos: Gal Oppido

Diversas culturas são apresentadas no espetáculo

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 05.05.2017

Infância de Exu rende lindo espetáculo sobre diversidade

Eleguá, Menino e Malandro, uma ode à cultura afrobrasileira, é exemplo de peça alto astral e musicalmente bem dirigida – e é grátis

Deve ser algo que acontece com todos os que gostam de teatro. Sinto um prazer imenso quando vou sem expectativas a uma peça e saio tendo descoberto uma grata surpresa, um espetáculo redondinho, em que tudo funciona bem, empolgante, instigante, criativo. Não é o máximo? Pois aconteceu comigo de novo, desta vez na plateia da Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo, com o espetáculo infantil Eleguá, Menino e Malandro. Que achado! Que astral bom!

A diretora e autora é Antonia Mattos, que ganhou prêmio de revelação de atriz no ano passado por Caminho da Roça, do premiado grupo As Meninas do Conto. Bem se vê o quanto a moça é boa também fora do palco. Ela dirige tudo com uma agilidade envolvente, um ritmo certeiro. E três ótimos atores (Giselda Perê, Renato Caetano e Rubens Alexandre) fazem os mesmos personagens, em revezamento – o que sempre é rico no teatro para crianças, pois revela o quanto o teatro não passa de um jogo em que tudo é possível e permitido. Um jogo que espelha a vida, já que também trocamos de papeis constantemente em nosso dia a dia.

De cara, a trilha ao vivo merece todo o nosso respeito. Jonathan Silva, diretor musical e autor das canções da peça, permanece em cena com Rômulo Nardes e, juntos, os dois fazem maravilhas inacreditáveis, sobretudo na percussão. Com bem nos informa o material de imprensa, os protagonistas da trilha são os batás, tambores sagrados africanos usados pela cultura musical afrocaribenha.  Não existiria o espetáculo sem esta forte ‘pegada’ musical, que inclui ainda o rap, o blues, o repente nordestino e até o funk. Saímos do teatro contagiados pela alegria e, mais que isso, contaminados pela espiritualidade ancestral retratada na trilha.

A peça conta a história do irrequieto menino Eleguá e sua infância de muitas brincadeiras e perambulações pelo mundo. Ele vive sua meninice com plena potência de vida. Para quem não sabe, Eleguá, travesso e zombador, é outro dos nomes pelo qual o orixá Exu é conhecido. Sem forçar a barra, sem pregações, sem didatismos, o espetáculo é importantíssimo para que seus filhos possam conhecer outras culturas, outras religiosidades, outras raças.

Não há melhor forma de criar filhos mentalmente saudáveis do que mostrar a eles as diferenças presentes no mundo. Só com conhecimento na infância é que se pratica o respeito na idade adulta. Eleguá, Menino e Malandro, nesse sentido, é obrigatório. Corra com a família e mostre às suas crianças como é valoroso o universo afrobrasileiro do qual todos fazemos parte. Vida longa ao espetáculo.

Serviço

Sala Jardel Filho / Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Rua Vergueiro 1000 – Paraíso – São Paulo
Telefone: 11  3397-4002
Sábados e domingos, às 16h
Ingressos: grátis
Classificação etária: livre
Temporada: 15 de abril a 21 de maio de 2017