El Toreador, em cartaz no João Caetano, é uma adaptação de um antigo texto de Janete Clair.
Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 24.10.1993

 

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Toques de grande produção 

Histórias sobre gêmeos idênticos e sósias têm rendido bom público ao cinema, teatro e literatura. Mesmo que o gancho do enredo se repita ou até por esse motivo mesmo, o interesse sobre o duplo permanece inabalável.

El Toreador, ocupando as matinês do Teatro João Caetano, é uma história sobre sósias, escrita originalmente para o teatrinho Trol da TV TUPI, por Janete Clair. Nahacienda de Don Pepe, prefeito de Fuentes de Cantos, sua filha Conchita sonha com Manoelito, El Toreador, e se apaixona por ele. Seguindo a linha das mocinhas mimadas, ela exige que o matador venha a torear especialmente para ela. Como estratégia de convencimento, inicia uma falsa greve de fome, até que o pai lhe faça a vontade. Mas Manoelito, é um megastar e faz todas aquelas exigências engraçadas e faz todas aquelas exigências engraçadinhas para iniciar a turnê. Na confusão do vai não vai, descobre-se que Sancho, empregado de Don Pepe, apaixonado por Conchita é literalmente a cópia fiel de El Toreador. Apenas um detalhe os diferencia: Sancho não pode ver touro nem em fotografia. Está criado o conflito.

Escrito em 1967, o texto usava muitas referências aos Beatles. A adaptação de Neuza Caribé brinca com os superastros do momento. Assim num registro das superstições do rei Roberto Carlos, ninguém pode entrara na casa de marrom, aliás, não se pode nem mencionar a cor. Como seu coleguinha Michael Jackson, Manoelito tem um parque de diversões particular.

A direção de João Brandão tira o melhor do cast principal, mesmo nas cenas mais complicadas, onde se faz necessário a duplicação do personagem título. Também equacionadas estão as cenas das múltiplas mudanças de cenário, que costumam prejudicar o ritmo dos espetáculos. Porém a entrada dos bailarinos na encenação não alcança o mesmo tom harmônico do restante da montagem. A coreografia de Mabel Martin estaria melhor num espetáculo de dança. Como parte integrante de um musical ela se desloca da cena formando quase um entreato.

No elenco, Neuza Caribé e Janser Barreto, dando continuidade à parceria de muitos anos, estão em cena bastante à vontade nos personagens Colcheta e Sancho (e Manoelito). Cássia Forreaux dá o tom das madrecitas à sua Mercedes e Gustavo Gasparini tem impecável humor, tanto para o empresário Juan como para o irritante mensageiro. Regina Medrado, usando o pátio interno de uma hacienda como cenário básico, modifica o ambiente com a inserção de adereços bastante convincentes.

As músicas de Alfredo Dias Gomes para as letras de Alain Pierre mexem com vários ritmos – rocks, baladas e raps – que se encaixam perfeitamente na caliente trilha espanhola. El Toreadoré um espetáculo que tem o toque suntuoso das grandes produções e todos os requisitos para contar sua história a crianças e adultos.

El Toreador – Em cartaz Sab, às 17h, e Dom, às 16h, no Teatro João Caetano.

Cotação: 2 estrelas (Bom)