Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 23.01.1982

Barra

Um Quixote apenas louco

Em Sonhe com os Ratinhos, que foi levada ano passado no Planetário, Ricardo Maurício obteve um ótimo resultado na direção do espetáculo. Seu novo trabalho de direção é o Dom Quixote, em cartaz no teatro de Arena (antigo Opinião), mas, desta vez, Ricardo Maurício não conseguiu conceber e realizar uma boa encenação. Inicialmente, o material que teve às mãos não era muito rico, já que o texto do adaptador Paulo César Coutinho é demasiadamente esquemático. A nós, espectadores, interessa acompanhar história das loucuras quixotescas; e, ao mesmo tempo, anos, como espectadores, falta interesse em ver como essas aventuras se desenvolvem, pois o como não vem carregado de criatividade, nem de clima nem de emoção. É tudo demasiadamente frio, os movimentos são os óbvios, sem qualquer busca de uma expressividade maior. Para o espectador falta uma grande dose de verdade cênica para que ele possa acompanhar, como cúmplice, as aventuras desse personagem extremamente sensível e visionário. Dessa forma, todas as ações de Dom Quixote ficam demasiadamente esvaziadas, viram simples loucuras. E Dom Quixote se transforma, apenas, num doido qualquer.

Os cenários de Sérgio Fidalgo e Carlos Veiga são inteligentes, mas a direção não explora as potencialidades permitidas pelos painéis, utilizando-os apenas de forma repetitiva. Além disso, há uma questão de visibilidade, pois parte da plateia não consegue ver o moinho – e nem o palco onde se apresentam os bonecos. A parte musical deixa muito a desejar, a partir do momento em que o espectador não entende a letra das músicas cantadas. À própria ação nas horas de canto não é suficientemente forte para manter o interesse e, nestes momentos, amplia-se a falta de comunicabilidade com o público. O elenco não compromete, mas também não brilha; e os duendes são presenças absolutamente gratuitas em toda a encenação.