Espetáculo com brasilidade, sem cair nas mesmices do folclore

Visual caprichadíssimo, muito criativo, nada óbvio e bastante elaborado

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 26.01.2017

Como falar de folclore para as crianças sem ser didático e professoral

Curupira, peça encantadora, que estreou há 21 anos e continua acertadíssima, faz duas sessões especiais no Rio neste fim de semana

“Dois irmãos, encontram-se em uma mata fechada, no interior de Minas Gerais, numa noite de lua cheia, na companhia de estranhos personagens da região: o Velho da Mata, a Velha da Embolada, a Mariposinha, e de gritos e assobios, que prenunciam a presença de um curupira pelas redondezas. Dizem que o Curupira faz caçador se perder na mata toda sexta-feira. Um assobio aqui, outro mais adiante e quando se vê… não tem mais jeito. Não tem mais volta. É assim o Curupira: protetor de um lado, assustador de outro. Meio bicho, meio gente, meio assombração – se é que pode haver três meios.”

Com essas palavras, a Cia. Boto Vermelho, do Rio de Janeiro, apresenta o seu espetáculo Curupira, que já tem 21 anos de trajetória. Isso mesmo: 21 anos na estrada com o mesmo espetáculo, apresentado até agora em 276 sessões contadinhas na ponta do lápis, para 156.700 espectadores. Pois agora surgem mais duas apresentações a se contabilizar na história dessa peça de sucesso duradouro: neste sábado (28) e neste domingo (29), às 16 horas, ela será apresentada no Galpão Gamboa, no Rio, como parte da programação do festival 6º Gamboavista.

Idealizado pelo ator Marco Nanini e pelo produtor Fernando Libonati, o Gamboavista é realizado desde novembro de 2011 e se firmou como parte do calendário cultural carioca, na recém restaurada Zona Portuária da cidade. Se você mora ou está no Rio e ainda não conhece a peça, não perca essas duas chances no fim de semana.

Trata-se de um texto muito bem escrito e construído, assinado por Roger Mello. A montagem de Ricardo Schöpke – que, além de encabeçar o elenco, também assina direção geral, direção de arte, direção de movimento, arquitetura de luz, cenografia e pesquisa musical – é acertada, com visual caprichadíssimo, muito criativo, nada óbvio, bastante elaborado. A roupa da Velha da Embolada é rica em detalhes e encantamentos. A cenografia é muito bem explorada pela iluminação, criando climas fantasiosos, ambientações mágicas. O realismo passa longe, o que é muito bom.

Roger Mello, o dramaturgo, tem credenciais internacionais, inclusive como ilustrador. Venceu o prêmio dinamarquês Hans Christian Andersen 2014 pelo conjunto da obra e foi indicado em 2016, na Suécia, ao prêmio Alma – Astrid Lindgren Memorial Awards. A linguagem desta sua peça é regional, plena de simbologias e bom uso de expressões, interjeições e prosódias.

Estamos falando de um espetáculo de uma brasilidade importante, sem cair nas mesmices do dito folclore. Além disso, explora muito bem o medo das crianças pelo desconhecido, pelo escuro, pelos sons da natureza. E, por falar em sons, a trilha é também outro ponto alto. Muito bem escolhida, ela emociona e pontua muito bem as ações – executada ao vivo pelo percussionista Carlos Poubell. Completam o elenco: Chiara Santoro (que canta Villa-Lobos lindamente no espetáculo), Sophia Dornellas e Alain Catein. Fica a dica. É só neste fim de semana. No Rio.

Serviço

Galpão Gamboa
Rua da Gamboa, 279, Gamboa – Rio de Janeiro
Sábado (28/1/2017) e domingo (29/1/2017), às 16h
Capacidade do teatro: 86 lugares
Classificação etária: Livre
Duração: 70 min
Ingressos: R$ 10,00 inteira / R$ 5,00 meia / R$ 2,00 moradores da região