Coração Adolescente procura discutir algumas preocupações dos jovens, mas acaba se mostrando desatualizada.
Foto Emilton Tapume


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 20.11.1993

 

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Tão atual quanto o ‘papo firme’

O placar do jogo de equívocos entre adultos escrevem versus adolescente interpretam continua empatado. Se a primeiro peça, ao tomar para si, a responsabilidade de retratar o cotidiano da geração anos 90, o segundo não sai tão ileso quando embarca no enredo sem muita crítica e acaba se envolvendo em tramas dignas das letras comportadinhas da Jovem Guarda. Coração Adolescente é tão atual quanto a expressão papo firme.

O texto de Limachen Cherem e Eduarda Maia começa com os preparativos da festa de 16 anos da Nanda. Uma turma pouco equilibrada – três meninos (o galã, o espertinho, e o bolha) para sete meninas – vive intensamente todos os momentos que antecedem o grande evento. Entre eles: prova de matemática, masturbação, escolha de vestido de baile, disputa pelo namorado, o primeiro beijo e revista de mulher pelada. Ao som de uma trilha sonora que vai de Rita Lee a Lamartine Babo, tudo acontece.

As letras das músicas servem de inspiração para as situações vividas no palco. Entretanto, a mesma turma que inocentemente se envergonha do primeiro beijo no escurinho do cinema, tendo como tema musical Splish Splah, na cena seguinte fala em teste de gravidez e menstruação atrasada com muita desenvoltura. O hit ilustrativo é Ligeiramente Grávida. Tem tudo a ver.

A direção de Cherem para seu próprio texto encontra nos atores do Grupo Tapume um excelente veículo para seus experimentos. Mesmo sem muito domínio do palco, o elenco se esforça em cumprir seus papéis da melhor maneira possível. Respeitando rigorosamente as marcas do diretor, as performances se diferenciam apenas pelo brilho pessoal. Saem ganhando os que apostam numa linha mais descontraída – Aziran Magalhães e Daniel marinho.

Os cenários (uma tira de negativo de filme e um buraco de fechadura em proporções gigantescas) e figurinos de Marco Aurélio, mesmo sem grandes voos, não chegam a comprometer a ação. Muito estranho é que Nanda, depois de muito escolher, resolva ir ao seu pós-debut com um impactante vestido vermelho-sangue. Talvez seja uma citação a Bette Davis, em Jezebel. É a arte imitando a arte.

Coração Adolescente, que teria como grande trunfo a participação de um público da mesma idade do elenco, tem na plateia senhoras e senhores que muito pouco devem se interessar pelos problemas da turma da Nanda. Mesmo a carta da mãe da protagonista, lida em off, se refere a uma Ipanema com lanchonetes de paredes pintadas por Juarez Machado, onde uma reprodução da Monalisa devora um cachorro quente. Era o Rick’s. Enfim, um revival para corações que já passam dos 40, é claro.

Coração Adolescente está em cartaz no Teatro da Praia, aos sábados e domingos, às 19h.

Cotação: 1 estrela (Regular)