As atrizes interpretam o papel de várias Cora

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 25.08.2017

Os figurinos são caprichados. Fotos: Michel Igielka

Os fantasmas em forma de formigas conversam com a poeta a vida toda

Doces, flores e poemas marcam peça sobre Cora Coralina

Núcleo Caboclinhas comemora seus 10 anos falando para as novas gerações sobre a vida simples e tocante da poeta goiana

As meninas talentosas do Núcleo Caboclinhas, em atividade desde 2007, são apaixonadas pelos costumes brasileiros. Eles já encenaram e homenagearam autores como: Tatiana Belinky, Guimarães Rosa, Patativa do Assaré, Rolando Boldrin e Ana Maria Machado. Agora chegou a vez de contarem a linda história de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mais conhecida como Cora Coralina (Goiás, 1889-1985), “poetisa por dom, doceira por profissão”. O espetáculo Cora, Doce Poesia, já em sua segunda temporada na cidade de São Paulo, que se encerra neste próximo domingo, além de ser tributo a Cora, marca os 10 anos de existência do Núcleo Caboclinhas que, como a poetisa, tem grande dedicação e amor pela literatura e pelo povo brasileiro.

Na peça, as atrizes Aline Anfilo, Geni Cavalcante, Giuliana Cerchiari e Luciana Silveira vão desempenhando o papel das várias Coras ao longo de sua vida. Já antes do terceiro sinal, elas interagem com a plateia, conversando com as crianças, apresentando-se informalmente, convidando todos no teatro para almoçar um feijão bem temperado e para comer goiabada de sobremesa. Ótimo início de espetáculo, que enreda a plateia desde o primeiro minuto e a ‘joga’ para dentro da história a ser contada.

As músicas, compostas especialmente para a peça pelo diretor musical Zé Modesto, funcionam muito bem – e liricamente falam da simplicidade da vida da poeta goiana. Repare na excelente forma escolhida para marcar as passagens do tempo, retratando a personagem em várias fases de sua vida, incluindo uma inteligente alternância de atrizes. A cenografia e os adereços de Victor Merseguel são aliados fundamentais.

Repare também nos “fantasmas” em forma de formigas, que conversam com a poeta a vida toda. A força telúrica que marcou a vida dessa grande mulher interiorana está toda lá, de forma tocante. E foi uma vida difícil, com ‘direito’ a palmatória na escola – é válido mostrar isso para as crianças da atual geração. A metáfora das pedras é rica e bem apropriada para também marcar essas dificuldades e essa garra de ‘gente humilde’ que compõe o caráter do povo brasileiro.

Fique de olho também no capricho dos figurinos de Rogério Pinto, com muitos apliques de flores, muito crochê, fuxicos e franjas coloridas. Lindo demais de se ver. E em perfeita combinação com uma das frases mais belas do espetáculo, dita pela protagonista: “Flores, doces e poemas: não quero que nada disso falte nunca em minha vida.” Programe-se, pois domingo é o último dia dessa temporada no SESC Ipiranga. E atenção, escolas: trata-se de um importante veículo de divulgação da poesia.

Serviço

SESC Ipiranga
Rua: Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo
Telefone: (11) 3340-2000
Capacidade: 200 lugares
Domingos, às 11h
Ingressos: Grátis para crianças até 12 anos. R$ 17,00 (inteira), R$ 8,50 (meia) e R$ 5,00 (credencial plena/SESC)
Temporada: Dias 13, 20 e 27 de agosto de 2017