Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 08.05.1993

 

Barra

Fábula displicente para plateia cativa

Há pouco tempo foi inaugurado em Belo Horizonte o espaço Teatral Dercy Gonçalves. Muito provavelmente, o público da região não espera assistir na casa nenhuma montagem de Medéia ou outras peças do gênero. Ainda que sem um nome tão marcante, o Teatro Posto Seis tem apresentado uma variedade de espetáculos que seguem uma mesma linha displicente de produção e que, por certo, está se tornando a sua marca registrada. Cinderela – Uma Gata Borralheira, embora com alguns cuidados a mais nos cenários, figurinos e adereços, conquista a plateia cativa do Posto Seis, que foi ao teatro esperando ver o que ele costuma apresentar.

A Companhia de Teatro em Ação, criada pelos atores Perla di Maio, Torquato Ayser, Sérgio Farias e Débora Miranda, se responsabiliza por todas as etapas da encenação. Atitude que acaba por desabar no palco numa variedade de estilos de representação e sem qualquer unidade estilística. Perla di Maio, ex-integrantes do Projeto Mercado de Estórias, íntima dos personagens da commedia dell’arte, farsa medieval e ópera bufa, consegue interessantes momentos na concepção da sua Cinderela, principalmente quando usa recursos do teatro mímico, criando ambientes invisíveis, que mesmo dentro de um cenário formal consegue ser percebido pela plateia. Débora Miranda, interpretando os papéis de Fada Madrinha e Mensageiro, tem sua performance prejudicada pelo tom monocórdio. Sérgio Farias e Torquato Ayser conseguem, apesar do histrionismo natural com que interpretam as irmãs malvadas, se revelarem em outros papéis, sendo responsáveis pelas sinceras gargalhadas do público. No entanto, a montagem ganharia um contorno mais firme, elegendo uma direção que unisse a cenas, ao mesmo tempo que garantisse um tom harmônico ao conjunto. Apesar das dificuldades apresentadas, Cinderela – Uma Gata Borralheira conquista a sua assistência.

Cotação: 2 estrelas ( bom )