O musical é uma adaptação de uma peça que estreou na Broadway na década de 1990

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 07.07.2017

Os figurinos também se destacam. Foto: Camila Marques

A peça é um ótimo musical para crianças

Grupo Artemis mostra seu domínio para encenar musicais

Certa Vez Numa Ilha, na FUNARTE, em São Paulo, esbanja competência e emoção do começo ao fim

Grata surpresa foi para mim o musical infantil Certa Vez Numa Ilha, em cartaz na Funarte, em São Paulo. Em primeiro lugar, um puxão de orelha no teatro, pelo atraso de quase meia-hora do espetáculo no domingo passado. Ao que tudo indica, há dois espetáculos em cartaz ali às 16 horas. Enquanto o primeiro não começa e o público não entra, não liberam a entrada para o musical, o que causa esse atraso imperdoável. Então, se não têm condições de manter dois espetáculos pontuais no mesmo horário, por que não assumem de vez que este Certa Vez… comece sempre às 16h30, em vez de anunciar o horário das 16h? Desrespeito absoluto com o público.

Mas, fora isso, foi realmente uma grande alegria tomar contato com o talento do Grupo Artemis, surgido no ano 2000 em Mauá, município da região metropolitana de São Paulo e pertencente ao ABC paulista. Sempre pesquisando os contos populares, o grupo já montou espetáculos como Hércules – A força de um mitoAs Troianas – O Espírito de TróiaA Ópera dos BichosAida – O MusicalA Rainha da Neve – O Musical e Uma Luz Cor de Luar.

Em Certa Vez Numa Ilha, eles demonstram completo domínio do gênero musical. Musical mesmo, daqueles em que os personagens conversam cantando. Dá gosto de ver 17 atores em cena, soltando a voz e dançando muito bem, defendendo com garra seus personagens, contando uma boa história, com ritmo, emoção e empolgação. Não é fácil conseguir isso. Uma verdadeira proeza, com direção geral de Rafael de Castro e direção musical de Eduardo Albertino.

Trata-se de uma adaptação de Once on This Island, que teve sua estreia na Broadway em 1990. Conta a história de uma menina camponesa que salva um menino rico do outro lado de uma ilha do Caribe e se apaixona por ele. Mas é um amor impossível, pela diferença de classe social, ou seja, a peça fala de preconceito e intolerância, temas infelizmente sempre muito atuais. O tom nunca é de pieguismo, mas há momentos de muita emoção pela verdade que os atores empregam em suas sensíveis atuações. Luci Salutes, a apaixonada protagonista, é uma atriz completa, muito talentosa para cantar, dançar e interpretar. Nasceu para o protagonismo. No elenco vasto de coadjuvantes, destaco Stefani Dourado, a melhor cantora em cena, no papel forte de Asaka, a Mãe Terra.

Certa Vez Numa Ilha, muito competente também no quesito figurinos (bom uso do branco e das rendas, por exemplo), termina com uma grande empolgação, quase uma apoteose, em torno do valor de se contar histórias. A canção final é linda. Todo mundo vai embora para casa em comunhão com o teatro, com a fantasia, com a imaginação. A arte do encontro. Um caso exemplar de cumplicidade dos artistas com a plateia. Vida longa ao Grupo Artemis.
Serviço

FUNARTE – Sala Guiomar Novaes
Alameda Nothman, 1.058 – Campos Elíseos, São Paulo
Telefone: 11 3662-5177
Sábados e domingos, às 16h.
Classificação etária: Livre
Duração: 70 min.
Ingressos: R$ 40,00 inteira e R$ 20,00 meia
Temporada: De 3 de junho a 16 de julho de 2017