Crianças em cena no espetáculo inspirado em “Carrossel”

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 17.03.2017

Rosana Mulholland é a professora Helena e Márcia de Oliveira é Graça, a faxineira. Fotos: Giovana Cirne

Os atores mirins no palco são bem direcionados

Carrossel, o Musical: um dos melhores espetáculos infantis do primeiro semestre

Depois do sucesso na TV e no cinema, a trama ganha novo frescor e graça ao migrar para o palco sob as batutas de dois craques do teatro paulistano, Fernanda Maia e Zé Henrique de Paula

Uma celebração de talentos.

Fiquei muito tempo pensando em como começar esse texto sobre o espetáculo infantil musical Carrossel, em cartaz em São Paulo. Quantas e quantas vezes eu fiz comentários negativos em minhas críticas a respeito de peças infantis com crianças no elenco? Muitas vezes. Inclusive algumas dessas vezes me acusaram de ser indelicado com os ditos “atores mirins”, alegando que as crianças não teriam a mesma maturidade dos adultos para ouvir críticas negativas a respeito de suas performances. Será? Já tive de lidar com adultos ególatras incapazes de aceitar críticas.

Teatro é que a gente vê em Carrossel. Com 26 crianças no elenco! Isso mesmo, 26 crianças revezando-se pelas diversas sessões. Por isso comecei o texto com “uma celebração de talentos”! Pois nada melhor do que chamar as pessoas certas para as funções certas. Fernanda Maia, como diretora musical, e Zé Henrique de Paula, como diretor artístico, duas figuras premiadas e veteranas do grupo Núcleo Experimental, acertaram em cheio na descoberta, no estímulo, na preparação, na escalação, na condução dessas 26 crianças em cena. Seriam crianças mais preparadas, mais bem dotadas, geniais, precoces, iluminadas? Não, são apenas crianças. Mas que tiveram ao seu dispor uma talentosa e sensível equipe de adultos (incluindo a preparadora de elenco Inês Aranha), gente que sabe o que faz, sabe o que quer. Gente que exige da criança só o que a criança é capaz de doar ao espetáculo, nada além disso – e aí aparece cada coisa de se aplaudir de pé!

Encarar o desafio de levar ao palco um grande sucesso da TV, que já tinha também virado filme, poderia levar a facilidades tanto quanto a equívocos imperdoáveis no teatro, como tanto já se viu acontecer. Mas o Carrossel do teatro está um capricho só. Fiquei imaginando que tudo ficaria restrito ao ambiente escolar onde se passava a trama da novelinha da televisão, o que seria limitador para os voos da dramaturgia, inclusive. Mas a cenografia do espetáculo (Bruno Anselmo) não se limita a reproduzir uma sala de aula. A aventura criada para tantos personagens extrapola os limites do colégio e leva a um castelo mal-assombrado. Fernanda Maia, autora também do texto, criou uma boa história, movimentada, verossímil e fantasiosa ao mesmo tempo, com direito a romantismo de ‘final feliz’. Contribuem para o incrível visual a iluminação sempre acertada de Fran Barros e os efeitos muito bem empregados de vídeo mapping, a cargo de Laerte Késsimos.

Os números musicais são todos muito bons, o que, afinal, é fundamental em uma peça justamente do gênero musical. Não há playbacks nem dublagens. As crianças defendem tudo nos próprios ‘gogós’ e com músicos ao vivo, instalados no fosso da orquestra. Isso é incrível, exemplar. Se conseguíssemos extirpar a praga dos playbacks dos palcos infantis… Muito bom gosto também na escolha do repertório, com competente afinação de todo o elenco, inclusive das crianças. No dia em que fui ver a peça, o microfone do menino que interpreta o personagem Paulo falhou. O garoto em cena não fez feio. Cantou toda a música sem microfone e se saiu muito bem. E é preciso elogiar muito, muito mesmo, as coreografias do espetáculo. Tenho visto coisas constrangedoras e muito despreparadas e mal ensaiadas nos palcos de teatro infantil na hora das danças. Mas aqui a criatividade é de se aplaudir de pé. A garotada dança com muita desenvoltura e talento. Não há espaço para aqueles ‘passinhos’ fáceis que a gente cansa de ver nos palcos. Quem assina essa verdadeira maravilha é o jovem coreógrafo e bailarino Gabriel Malo. Repare no bom gosto dos gestos, das expressões corporais, dos movimentos. Não é grosseiro nem apelativo.

Ah, e temos os adultos do elenco. Nomes luminosos do teatro paulistano assumiram papeis importantes com muita garra e o talento inegável de sempre. São eles: Chris Couto, como a diretora Olívia, Roney Facchini, como o vilão Aderbal, Rosana Penna, como Marlene, cúmplice do vilão, e Patrick Amstalden, como o garboso Pirata Bartolomeu. Um time afinadíssimo, completado, claro, pelo carisma de duas atrizes que são muito conhecidas por serem do elenco original da telenovela: Rosanne Mulholland, como a professora Helena, e Márcia de Oliveira, como Graça, a hilária faxineira da escola, responsável pelas maiores risadas na plateia. Enfim, qualidade inegável, diversão garantida. Assim é ‘Carrossel, o Musical’. Aplaudo de pé.

Serviço

Teatro Santander – Complexo do Shopping JK Iguatemi
Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2.041, Itaim Bibi – São Paulo
Telefone: (11) 4003-1022
Quando: Sextas, às 20h; sábados, às 16h e 19h e domingos, às 11h e 15h
Ingressos: Plateia VIP R$ 150,00; Plateia Superior R$ 120,00; Frisa Plateia Superior R$ 120,00;
Balcão R$ 90,00 e Frisa Balcão R$ 80,00
Vendas online: Entretix (https://www.entretix.com.br) e
Ingresso Rápido (https://www.ingressorapido.com.br)
Temporada: De 20 de janeiro a 9 de abril de 2017