Cena do espetáculo A Bruxinha Que Era Boa. Fotos: Ezyê Moleda

Critica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 19.07.2013

Barra

Uma doce bruxinha e sua sensação de desajuste

Peça de Maria Clara Machado, A Bruxinha que era Boa, é mais uma vez montada com fidelidade pela República Ativa de Teatro

Volta e meia a obra de Maria Clara Machado (1921-2001) é lembrada pelos encenadores e ganha novas montagens. A criadora do histórico Teatro Tablado, no Rio, cuja peça mais conhecida é Pluft, o Fantasminha, merece que sua consistente produção para teatro seja ventilada para as gerações atuais. Em São Paulo, dentro da ótima programação deste ano do Festival de Férias do Teatro Folha, às quartas-feiras a atração é A Bruxinha que era Boa, que Maria Clara escreveu em 1955, mesmo ano de Pluft. No lugar do fantasminha que tem medo de gente, agora temos a bruxinha que não consegue fazer maldades. Essas inversões de ótica valorizadas pela dramaturga agem com muita propriedade e eficiência no imaginário das crianças.

A companhia responsável pela montagem no Teatro Folha, que depois seguirá em nova temporada no Teatro Alfredo Mesquita, em Santana, é a República Ativa de Teatro, surgida na Faculdade Paulista de Artes em 2006, mesmo ano em que pela primeira vez montaram A Bruxinha que era Boa, depois seguida por O Cavalinho Azul (2008) e por A Menina e o Vento (2012). Esses seus três espetáculos, pinçados da vasta carreira de Maria Clara Machado, renderam à companhia, até agora, mais de 25 prêmios em diversos festivais pelo País, além de participações em duas mostras internacionais no Chile.
O diretor Rodrigo Palmieri, jovem e dinâmico, nos proporciona uma visão bem fiel à obra original, valorizando o texto (sempre farto e palavroso na obra de Maria Clara Machado) e a concepção inteligente da autora, com sua ideia do mundo às avessas: o mal, representado pelos truques sobrenaturais do bruxo Belzebu III e suas assistentes gritalhonas, só existe para acentuar a beleza e a graça do bem. A densa floresta onde ocorre toda a ação da peça (muito bem caracterizada no cenário de Zé Valdir Albuquerque e na iluminação de Paulo Oseas e Rodrigo Palmieri) precisa ser libertada dos efeitos da maldade para voltar a ser habitada por passarinhos e frequentada por crianças. A ameaça da Torre de Piche precisa ser extirpada pelo encanto da música, uma solução final que remete aos poderes mitológicos de Orfeu e sua lira.

Como o vilão Belzebu III, o ator Leandro Ivo consegue a eficiência de sempre encarar a plateia de frente, sobretudo nos momentos de enunciar e anunciar suas maldades, e, com esse recurso de aproximação, atrai para si os olhares de desconfiança e medo da plateia mirim. Vivi Gonçalves, como a protagonista Ângela, a bruxa boa, está perfeita no papel: doce, bela e singela, a atriz estampa no rosto a angústia de não conseguir ser o que esperam dela. Suas trapalhadas tentando ser má estão na medida certa do humor e do sentimento de desajuste. Outro destaque do elenco é Nathalia Neme, segura e expressiva como o Vice-Bruxo, personagem corcunda, desengonçado e divertido, que representa a inocência e a ingenuidade.

Serviço

Teatro Folha – Shopping Pátio Higienópolis
Av. Higienópolis, 618 / Terraço
Tel: (11) 3823-2323
Quarta, dia 24, às 16h
R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Teatro Alfredo Mesquita
Av. Santos Dumont, 1.770 – Santana
Tel.: (11) 2221-3657
De 27 de julho a 01 de setembro
Sábados e Domingos, às 16h
R$ 10,00 (Inteira) e R$ 5,00 (Meia)