Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 24.02.2017
Branca de Neve ressurge nos palcos em adaptação bem diferenciada
A história clássica está toda lá, mas recontada com novos elementos e uma significativa mudança no final
Os clássicos estão aí para ser montados e remontados no teatro. Há quem os recrie e os reconte, há quem apenas copie fórmulas e clichês. Branca de Neve aportou de novo nos palcos de São Paulo, desta vez na companhia de apenas um anão, o Zangado – e o espetáculo é ótimo, eficiente, divertido e criativo. Branca de Neve e Zangado, com direção da premiada e veterana Mira Haar, está já há algumas semanas em cartaz no Teatro Frei Caneca e fica até 12 de março. Neste fim de semana do carnaval, um atrativo a mais para quem não viajou: todos pagam meia entrada para ver o espetáculo.
Juliana Baroni, atriz de televisão, estreia no teatro infantil como atriz protagonista e produtora. Em cena, esbanja graça e talento, fazendo uma princesa na medida certa da doçura, sem cair no estereótipo da boazinha-chata. Fora de cena, demonstra saber se cercar de ótima equipe para não descuidar de nenhum detalhe da produção. O texto é de seu marido, o escritor Eduardo Moreira, que escreveu especialmente para ela essa adaptação diferente e corajosa, não apelativa e muito criativa. Às vezes quase escorrega para o tom de lição de moral, mas felizmente fica só no ‘quase’. Moreira foi talentoso também na criação das letras das canções.
A direção de Mira Haar é cuidadosa e atenta. Trata criança com inteligência. O começo é lindamente teatral. A diretora optou por revelar o jogo da encenação logo de cara. Três contrarregras ‘montam’ o cenário à vista do público, o que se repete por toda a peça. Além disso, os atores entram no palco ainda fazendo aquecimento em cena. É um recurso ótimo para fazer as crianças irem aos poucos entrando no mundo de imaginação do clássico conto que atravessa os séculos e as gerações. Giovanni Venturini, ator que faz o anão Zangado, é, de quebra, um excelente narrador, também no tom certo, com boa voz. Tania Bondezan empresta toda sua experiência para o papel da Madrasta Má. Sabe como ser firme sem ser caricata. Não exagera nem cai no estereótipo da bruxa. Seu melhor valor é fazer a personagem presente e potente, sem precisar de histrionismos.
Mas ao meu ver, o personagem do Espelho Mágico (Thiago Amaral) é o melhor. Divertido, expressivo, carismático. As cenas entre ele e a Madrasta são sensacionais, muito bem escritas. O autor aproveita a ideia de ‘espelhamento’ e faz o Espelho repetir as mesmas falas da malvada. “Afinal, eu sou você”, diz o Espelho à Madrasta, com toda razão. Esse jogo entre os dois personagens fica mais rico, a partir dessa premissa de que ela, olhando no Espelho, fala com ela mesma. Grande sacada para mexer com o raciocínio das crianças.
E você acha que, no final, a Branca de Neve vai casar com o Príncipe? Se eu fosse você, não teria tanta certeza disso… Vá ver com toda a família. Diversão segura.
Serviço
Teatro Frei Caneca
Rua Frei Caneca, 569 – 7º andar
Telefones: (11) 3472-2229 / 3472-2230 / 3472-2226
Capacidade: 600 lugares
Sábados e domingos, às 15h
Duração: 70 minutos
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia).
No fim de semana do carnaval, dias 25 e 26/2, todos vão pagar meia (R$ 30)
Vendas: bilheteria do teatro e pelo site www.ingressorapido.com.br
Indicação: Livre
Temporada: De 21 de janeiro até 12 de março de 2017