Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 18.06.1995
Um Espetáculo Certinho Como a Bossa Nova
Poucos diretores são tão hábeis quanto Karen Acioly na montagem de musicais. Sua penúltima peça, Pianíssimo, de Tim Rescala, é um dos mais belos espetáculos nesta área. Agora, Karen reaparece também como autora, junto a João Lutz, em A Bossinha Nova, um passeio pelo ritmo consagrado sobre um banquinho e um violão. Simples, sem grandes cenários ou figurinos, a peça não demonstra o mesmo fôlego de Pianíssimo, mas também não desafina. No palco, Felipe Rocha, Janaína Diniz, Sheila Mattos e o baterista e dublê de ator Oscar Bolão, fazem um espetáculo certinho como a própria bossa nova.
Karen conduz a peça através do romance entre os primos João (Felipe) e Nara (Janaína) que, ao se reencontrarem depois de longo tempo são obrigados a dormir cedo quando na verdade querem mais é brincar. Sem saída, resolvem fazer isso no sonho.
Ilustrando tudo, estão as melodias inesquecíveis, O Pato, Doralice, Desafinado, etc…que fizeram sucesso na voz de João Gilberto e Cia.
Sem o uso de playback, os atores cantam ao vivo, acompanhados por três músicos, e, aí, quem se sai melhor nessa empreitada é a atriz e cantora Sheila Mattos, que conquista o público na pele da empregada Doralice e da mulata Maria Mole. Oscar Bolão não canta exatamente, mas é muito engraçado, às vezes não contém o próprio riso, como o vilão Dissonante.
E se a potência vocal não é um requisito para se cantar a bossa nova, no teatro ela é um elemento importante. Tanto Janaína como Felipe, bons atores, ficam prejudicados pela pouca potência de suas vozes quando cantam e, por vezes, engolem as letras das músicas. Além disso, faltam pequenos ajustes de ritmo a A Bossinha Nova. Cenas como as da hora de ir para a cama ou ainda a que segue O Barquinho podem ser menores.