Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 30.01.1993
Um clássico de tirar o fôlego
Recontar uma história há muito conhecida pelo público pode ter suas vantagens na medida que os adaptadores, recorrem aos clássicos e os reproduzem no palco, sem muita cerimônia. Para os contos de Grimm, Perrault e Andersen, o modelo Disney parece ser o preferido da maioria das produções teatrais. Mas esse tipo de aproveitamento não prima pela criatividade.
A Bela Adormecida, cartaz do Teatro Sesc da Tijuca, com texto e direção de Luca Rodrigues, é exatamente o inverso de tudo que já se viu nos palcos do teatro infantil sobre belas que espetam o dedo numa rosa. Numa profunda pesquisa, desde a mitologia grega até, ao Renascimento italiano, Luca utiliza os mais diversos signos para compor sua história, onde o enredo principal – o amor de Bela e Azor através dos séculos – é permeado por outras tramas com o mito da eterna juventude, a luta do bem contra o mal, compondo um quadro que chega ao palco carregado de emoção poucas vezes vista.
Amplamente competente em suas funções de autor, diretor, produtor e ator, Luca Rodrigues não se descuidou de nenhuma delas, e o que se vê em cena é o resultado de um trabalho obsessivo pela qualidade. No palco, Ana Aguiar, Cristina Montenegro e Deborah Catalani desenvolvem seus personagens numa performance impecável na distinção de seus temperamentos, o mesmo se dando com as fortes presenças de Newton Martins e do próprio Luca. As interferências da Cia. de Ballet do Rio de Janeiro funcionam como excelente fio condutor da história. Os cenários de Doris Rollemberg têm registro bastante cinematográfico, a luz de Renato Machado e as músicas de Leandro Braga completam o brilho do espetáculo enquanto os figurinos de Jefferson Braga dão o toque de teatralidade necessária.
Perfeito nos mínimos detalhes, A Bela Adormecida é um espetáculo de tirar fôlego.
Cotação: 4 estrelas ( excelente )