Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 25.09.1993
O alegre triunfo dos vilões
Definir um espetáculo como “uma boa mistura” não significa, na maioria das vezes , um elogio. Porém, quando essa mistura inclui o Teatrinho Trol e os Dzi Croquetes, o resultado é no mínimo interessante.
A adaptação de Cláudio Tovar para A Bela Adormecida, em cartaz no Teatro Ipanema, é uma bem – humorada versão do conto clássico, em que a história original aparece quase como pano de fundo, ficando o melhor com os vilões e os elementais – a Fada e o Gnomo.
Logo que as luzes se apagam, um soldado do rei convida o público para se levantar e cumprimentar os soberanos. O inesperado movimento anima de cara o público. No palco, a “Belinha”, ainda um bebê, vai ser batizada. Mas, antes mesmo que o fuso da roca a ponha a nocaute, a chegada triunfal da Fada-Madrinha pela lateral da plateia rouba a cena, provocando demorados aplausos. Daí em diante, fica quase impossível controlar a ativa intervenção do público no espetáculo.
O texto um pouco longo do começo da peça é atenuado pelo humor do elenco e por marcações criticamente caricatas do diretor. Mesmo que não intencional, o melhor do estilo Trol se apresenta, quase como uma citação. Porém, se nas cenas do castelo os diálogos se truncam e as marcações se amontoam, no bosque tudo vai bem. A direção de Chico Expedito, trabalhando melhor com pequenas cenas, deixa brilhar o especial humor dos maus, num interessante contraponto aos bons.
Lucinha Lins é uma Fada-Madrinha com todos os requisitos para o papel. Sua empatia com o público é instantânea. O mesmo acontece com o Gnomo, interpretado por Marcos Breda, numa performance irrepreensível, e Andréa Dantas faz uma Bruxa Má com atraente comicidade.
Cláudio Tovar, dono de um particular humor, faz de Moujike, o fiel ajudante da bruxa, um simpático vilão, talvez o único da história do teatro infantil a ser aplaudido entusiasticamente no final do espetáculo. Para os saudosos, tem até o incredible da doutora Arnalda e da doutora Hilária, dos bons tempos do Dzi Croquetes.
Com personagens tão fortes, era de se esperar que A Bela e o Príncipe ficassem ofuscados, o que realmente acontece. Ana Aguiar, em bonita e suave atuação destoa do Príncipe interpretado por Angel Palomero. Faltando a este o physique du role e uma presença cênica mais forte, fica praticamente impossível acreditar no romance do casal.
Com cenários criativos de Alziro Azevedo para o bosque e figurinos adequados de Cláudio Tovar, A Bela Adormecida, é um espetáculo que pega o público pelo humor e pelo diálogo que estabelece com a plateia, sem que isso se torne um jogo previsível e repetitivo.
Cotação: 2 estrelas (Bom)