A coreografia, baseada em musicais de Hollywood, é o ponto forte da peça Banana Split, em cartaz no Teatro Vanucci


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 04.10.1993

 

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Anos 50 em tom de ‘Sessão da Tarde’ 

No começo era o rock, pelo menos para os que hoje estão passando um pouquinho dos 40. Quando esse começo é Rock Around The Clock um hit de 1955, de Bill Halley e seus Cometas, o começo fica melhor ainda. Banana Split, ocupando o horário alternativo do Teatro Vanucci, tem início exatamente assim. Quando as luzes se apagam, a irrequieta plateia explode em gritos. No palco, blusões de couro e saias rodadas se movimentam ao som dos Cometas, numa bem marcada coreografia. Assim é o começo. O que vem depois?

O jovem autor do roteiro, Sandro Cardoso, divide sua peça em cenas que lembram muito outras peças ambientadas na mesma época. Assim, há um pouco das peças Era Uma Vez nos Anos 50, de Domingos de Oliveira, Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza, e até mesmo a reprodução literal dos diálogos de Ron de Christophoro para Grease. A história começa no dia do baile de formatura com dois amigos relembrando fatos acontecidos com eles e sua turma durante o período escolar, em Barbacena. Convenientemente, essas lembranças incluem os limites dos namoros com as mocinhas de família, a falta deles com outras mocinhas mais audaciosas, o campeonato sexual de faça você mesmo, o chá de cadeira nos bailes, a coragem que o cuba libre dá e outras deliciosas recordações dos fifties. Entremeados por números musicais marcantes como Let’s twist again, com Chubby Checker, um toque de Elvis Presley, e citação à canção Maria, do musical West Side Story e Summer Love e Alone in The Drive-in, de Grease. Também na trilha algumas lembranças: dos bailes com a orquestra de Silvio Mazuca e das licenciosidades cometidas na seqüência de música lenta, onde no penúltimo hit é recomendado que os rapazes comecem a pensar em Nossa Senhora para evitar os desagradáveis detalhes da apertada calça de tergal.

Sandro Cardoso sabiamente não assina um texto, mas um roteiro. Desta maneira, a colagem é aceitável e bem executada pelo elenco. Carolina Dieckman e Flavio Perissé se dividem em boazinhas Sandra Dee e descompostas Connie Stevens. Ficando para Mariana Leoni personagens mais elaboradas. Os rapazes Alexandre Simões, Ronnie Costa, Cleo Kelab, Sandro Cardoso, Marcos Aurélio e Victor Hugo criam, com maior ou menor veracidade, tipos característicos da época, se destacando do grupo a versátil performance de Cassiano Carneiro e seus antigalãs. Mas se as interpretações em alguns momentos se desequilibram, é inegável o fôlego e precisão do elenco ao executar a coreografia de Cláudio Moreno, que usa um espaço ínfimo do palco para as bem marcadas danças inspiradas nos musicais dos anos 60, ponto alto do espetáculo.

Na direção, Desmar e Paula Horta procuram agilizar a narrativa das cenas estanques da melhor maneira possível, distribuindo bem a qualidade das performances e das intervenções musicais.

Banana Split atinge em cheio a jovem plateia que lota o Teatro Vanucci, dando a impressão de que se trata de um público cativo do que considera o melhor programa da tarde.

Destoa desse espírito de Sessão da Tarde o desnecessariamente panfletário anticlímax que faz proselitismo político numa tentativa de conscientizar os jovens para a dura realidade do mundo. Só que Banana Split, a começar pelo título, é um espetáculo que deve ser saboreado como um bom sorvete.

Banana Split está em cartaz no Teatro Vanucci (Shopping da Gávea) às quintas (17h) e às sextas-feiras (18h), com ingressos a CR$ 350.

Cotação: 2 estrelas (Bom)