Elenco de Avoar, atualmente no Centro Cultural

Crítica publicada em jornal sem identificação
Por Anna Flora – São Paulo – 01.06.1985

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Jogos e Brincadeiras que valem a pena ver

Até que enfim, até que enfim! No Centro Cultural São Paulo está acontecendo um teatro para crianças que é digno de receber este nome! W o Avoar de Vladimir Capella.

Através de jogos, brincadeiras e cantigas de roda, o elenco vai nos mostrando um enredo onde todos os elementos estão perfeitamente integrados: de uma canção surge uma cena, de uma cena, vem um jogo e assim o espetáculo vai se desenrolando e conquistando a plateia.

O grande mérito de Vladimir Capella não foi descobrir o jogo na linguagem teatral, mas sim uni-lo com a música e saber levar esta mensagem com uma proposta clara e precisa.

As brincadeiras se sucedem no maior pique: Bento-que-bento é o frade, passa-passa gavião, a língua do pê (quem não se lembra da língua do pê), os quatro marinheiros, o jogo do mês e tantas outras…

Quanto ao elenco, o desempenho é perfeito, e olhem que é numeroso: doze pessoas em cena! é a primeira vez na vida que eu vejo atores que sabem cantar e representar ao mesmo tempo. E há mais um detalhe, se não bastasse a afinação, no elenco só tem gente bonita. Parece um comentário fútil, mas não é: não sei se vocês já repararam, mas a maioria das pessoas que fazem teatro, esteticamente falando, ainda se encontram na idade da pedra dos anos 60. Quer dizer, estão mais para o poncho e conga do que para 1985. Será que é muito abstrato dizer isso? Acho que não. Quem tem antena, capta.

O pessoal do Avoar não é assim. Eles são tão naturais no palco, tão claros e perfeitos que a gente respira aliviado: enfim um grupo dos anos oitenta!

Outra coisa: a cenografia bate de mil em qualquer outra peça que está em cartaz: possui a grande virtude de ser simples sem ser pobre e cuidadosa sem os esquemas das grandes produções. O cenário não esconde o talento de quem representa.

Por intermédio de panos, tecidos e escadas, todos os objetos são sugeridos e a imaginação da plateia posta para funcionar.

Em uma época tão minguada de bons trabalhos para crianças no teatro, Avoar é ave rara na cidade. Todo mundo tem a obrigação de assistir.