Arthur, I Love you pra Xuxu: um cult para crianças.
Foto de Guga Melgar


Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.03.1993

 

 

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Atores fazem o resgate do Titanic

O sucesso inesperado do grupo que se reuniu para criar a programação Terror na Praia cativou tanto seus atores que a fórmula acabou por se tornar um estilo de representação. Arthur, I Love You pra Xuxu, de Gustavo Machado e Cláudio Borioni, cartaz do Teatro da Praia, traz para a matinê todas as brincadeiras e defeitos especiais que fazem o delírio da turma da meia noite. Com enredo bastante previsível – princesa recusa se casar com o pretendente escolhido pelos pais e se apaixona pelo bobo da corte que, na verdade, é o príncipe disfarçado – o espetáculo corre linearmente, centrando todas as suas forças na interpretação.

A direção de Cláudia Borioni, que além de assinar o texto está em cena no papel da rainha, deixa seus atores bem à vontade em suas caracterizações e se encarrega de pontuar o espetáculo com os deliciosos absurdos que acontecem nas sessões noturnas daquele teatro, como por exemplo, o uso exagerado do efeito-fumaça cada vez que alguém abre uma porta, ou incluindo nas cenas de amor, trilhas de filmes famosos como Em Algum Lugar do Passado, entre outros.

No elenco, Anselmo Vasconcelos se destaca interpretando o rei Otelo, com todas as chaves do seu irresistível humor, tirando das suas cenas com César Pezzuoli humor, tirando das suas cenas com César Pezzuoli, o verdugo, grande comicidade, enquanto o par romântico Renata Laviola e Alexandre Lipiani dispensam o habitual Love Story e se deixam envolver pelo estilo anticonvencional da turma da praia. Com exceção dos figurinos de Cláudia Borioni, o restante da técnica funciona precariamente, tornando inaudível a trilha sonora do espetáculo, prejudicando também a execução da luz e a montagem dos cenários.

Numa encenação que tinha tudo para naufragar, o resgate do Titanic é feito pela excelente performance dos atores que usam todo o seu talento cômico e acabam por transformar o defeituoso conto de fadas em puro divertimento. A mesma estratégia usada pela companhia com o repertório de terror circense dos anos 40, que se tornou um cult do mesmo teatro.

Cotação: 2 estrelas (Bom)