Debby, Letícia e Tainah de Jesus: em cena, um eficiente teatro divertimento

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 31.05.1997

 

 

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Montagem cativa o público

A primeira vista, a ideia parece menos exigente e ser mais uma receita de sucesso, feita sob medida para agradar ao espectador menos exigente. Uma história simples, música animada, um pouco de sapateado e uma ambientação de pouca interferência. Enfim: o teatro divertimento, o musical ligeiro que se embala no balanço do tempo, que passa rápido nas salas de representação.

Amigas X Amigas poderia ser tudo isso e ainda assim estaria cumprindo sua função de agradar ao público, tarefa que cumpre brilhantemente, como poucos espetáculos em cartaz na temporada. Porém, muito mais do que isso, a peça, com texto e direção de João Batista, em cena no Teatro de Arena, subverte a ordem do teatro diversão, estabelecendo com seu público um diálogo dos mais interessantes.

Usando muito bem as situações tão familiares ao cotidiano dos pré-adolescentes, João Batista conta a sua história em takes muito bem cortados. Roberta, Renata e Raquel são três amigas, daquelas inseparáveis, que não imaginam a vida sem suas melhores amigas. Em contraponto ao trio, Sandra, Selma e Sônia tem a mesma ideia sobre suas existências. Assim, estas protagonistas/ antagonistas, em perfeita harmonia com seus problemas diários, gastam quase todo o seu tempo tentando se odiar mutuamente, sem ao menos lembrar como tudo começou. Enfim, as rivais, com os jeitinhos que a vida dá, acabam descobrindo qualidades umas nas outras. Ao final, as novíssimas amigas, agora num grupo de seis, arranjarão rapidamente outras rivais habilitadas de todos os defeitos que elas adoram detestar. Uma história feita para uma faixa jovem de público que pode muito bem pegar algum adulto desprevenido na plateia.

Para a trama cheia de “flagrantes da vida real”, Tânia Nardini e Mabel Tude criaram coreografias de acordo com as possibilidades do elenco, composto de atrizes sapateadoras muito jovens. Os pequenos deslizes no compasso do tap são perdoados pela plateia encantada com a sinceridade da interpretação. Porém, preocupadas em não errar as coreografias, as meninas Debby Pessanha Fernanda Barata, Letícia Kaminiski, Luana Martau, Priscilla Montes e Tainah de Jesus, esta última filha do bailarino Carlinhos de Jesus, esquecem de acompanhar a fita guia com as músicas compostas por Paula Leal, do grupo Las Chicas, que completam parte do enredo. Dessa maneira, a trilha que fecha cada cena perde sua função dramática e é utilizada apenas como adereço musical. Nada que o diretor não possa resolver.

A ficha técnica é a mesma que acompanhou o diretor João batista em seus trabalhos anteriores – Volpone, O Homem que Bebia Xixi e Esconde-Esconde. A cenógrafa Doris Rollemberg, o figurinista Mauro Leite e o iluminador Renato machado sabiamente apostaram numa estética totalmente diferente nesse espetáculo. Mantendo a qualidade anterior, a equipe afinadíssima reveste a encenação com toques aconchegantes. Em cena, a simplicidade dos figurinos e dos adereços cenográficos, mais a iluminação sem nenhuma pirotecnia, aproxima palco e plateia.

Amigas X Amigas é um espetáculo de casa lotada como há muito não se via. Teatro feito para o público com grandes resultados.

Cotação: 2 estrelas (Bom)