A peça é uma readaptação do enredo da Alice com as músicas da Jovem Guarda

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 11.08.2017

O espetáculo é animado e contagiante. Fotos: Ernnacost

A canção Negro Gato representa o Gato Que Ri

 

 

 

 

 

Alice da Jovem Guarda é diversão garantida no teatro

Lisérgica e psicodélica, a montagem é fiel à estrutura caleidoscópica da obra-prima de Lewis Carroll

Carla Candiotto, uma das fundadoras da Cia. Le Plat du Jour, tem aceito grandes desafios em sua carreira voltada para o teatro infantil e jovem. Além das pérolas que cria ao lado de Alexandra Golik, na Le Plat, há alguns anos vem abraçando com garra uma carreira solo igualmente bem-sucedida e premiada. Foi muito feliz em sua versão de Canção dos Direitos da Criança, em 2015, um musical de porte grandioso, e agora está em cartaz em São Paulo com outro desses musicais superproduzidos, Alice no País do Iê Iê Iê. Mais uma vez, assumiu a tarefa hercúlea de assinar direção e dramaturgia de uma montagem assustadoramente pretensiosa (no bom sentido). Muitos encenadores poderiam perder a mão, cair do cavalo. Muitos diretores poderiam “dar passos maiores do que as próprias pernas”, expressão tão antiga quanto sábia. Mas Carla é da estirpe dos grandes. Provou mais uma vez que brilha tanto em pequenas pérolas quanto em grandes formatos. Quem sabe sabe, não importa o tamanho ou o porte da empreitada.

A ideia do espetáculo soa arriscada: juntar o enredo alucinante da Alice de Lewis Carroll com as músicas da época da Jovem Guarda no Brasil. Muito já se fez nos palcos com esse conhecido texto de Carroll: erros, acertos, recriações, transcriações, mil e uma adaptações. Isso aumenta a responsabilidade da diretora e adaptadora. Mas, a meu ver, ela acertou em cheio – e em tudo. A história de Alice e seus personagens se encaixou criativa e harmoniosamente ao ritmo frenético do iê iê iê. Nada me pareceu forçado. Carla Candiotto entende do riscado, tanto que soube recriar mas ao mesmo tempo manter as características essenciais da obra de Lewis Carroll, com suas falas nonsense, as perguntas sem respostas, os jogos de palavras, o ritmo lisérgico, charadas, enigmas e uma certa lógica no absurdo, característica dos sonhos. Sem isso tudo, não seria Alice.

A ideia de fazer o coelho atrasado ser um produtor de espetáculos é divertidíssima, pois vira uma sacada de metalinguagem, o teatro dentro do teatro. Quando entra o famoso Gato Que Ri, a canção é Negro Gato – na mosca! Em vez da Rainha de Copas, temos quem? O Rei… referência ao Rei Roberto! Na hora do chá, surge a referência ao chá de cogumelos. O choro de Alice, em dado momento, surge em forma de psicodelismo gráfico no telão. No encontro de Alice com o Rei, ela completa para ele as rimas nas letras de canções conhecidas. E por aí vai. Um acerto atrás do outro. Não falta nem mesmo um hilário programa de auditório, imitando os musicais da TV dos anos 60, com direito às claques e à participação da plateia do teatro.

É só alegria. Um espetáculo contagiante, animado, vivo. A protagonista sofre bullying na escola por não saber cantar e dançar – quem nunca? Vai procurar ajuda na loja de discos de vinil de seu avô. “A peça, além de homenagear os anos 60, mostra o quanto é importante a criança receber o incentivo da família para se desenvolver”, declarou a diretora.

E o visual do espetáculo é nota dez. Totalmente coerente, bem pensado, detalhado com extremo rigor.  Marco Lima assina cenografia e figurinos com uma maestria de se tirar o chapéu. Seu trabalho com as cores é magnífico, vibrante. Cada adereço, cada objeto em cena, tudo na direção de arte é muito bem cuidado – e é maluco constatar que tudo o que vemos no palco saiu da lavra de um só profissional. É muita coisa linda ao mesmo tempo! Como Carla Candiotto, Marco Lima é outro membro de honra da galeria dos grandes – capaz de ser arrebatadoramente criativo tanto em peças de pequena produção quanto em uma supermontagem como esta Alice no País do Iê Iê Iê. É ver para crer. Uma brasa, mora?

Serviço

Theatro Net São Paulo
Shopping Vila Olímpia, 5º andar – Rua Olimpíadas, 360, São Paulo
Telefone: (11) 3448-5061
Capacidade: 799 lugares
Quando: Sábados e domingos, às 15 horas
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa
Livre. Ingressos: R$ 90 inteira/ R$ 45 meia (plateias central ou lateral); R$ 70/ R$ 35 (balcão 1) e R$ 50/ R$ 25 (balcão 2)

Vendas para grupos específicos: (11) 94536-6682  (21) 96629-0012
Temporada: De 17 de junho a 8 de outubro de 2017