Primeiras lembranças do Teatro para Crianças
Eu fazia o ginásio, quando assisti teatro pela primeira vez. Foi no Theatro São Pedro e o espetáculo era A Moreninha. Adorei, pois já tinha lido o livro, e vi como era no teatro. Que eu me lembre, essa foi a primeira experiência de teatro e foi muito importante pra mim. Quando comecei a assistir teatro, não fazia distinção entre teatro adulto ou infantil.
Do ver ao fazer
Eu devia ter uns dezenove anos e tinha uma amiga que fazia teatro. Cheguei a assistir com ela, algumas aulas no Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Ela começou a namorar um ator chamado João Pedro Gil, que hoje é professor da Universidade. Lembro que ele trabalhava no espetáculo Beijo no Asfalto, no Clube de Cultura, dirigido por Luciano Alabarse. Gostei e comecei a assistir as aulas. O engraçado é que quando eu entrei na Universidade, ela saiu.
Lembro que quando me matriculei para fazer o vestibular, tinha uma moça na minha frente que colocou Artes Cênicas como primeira opção. Eu não tive tal coragem e coloquei Tradutor e Interprete, mas acabei pedindo transferência para o curso de Artes Cênicas e a partir daí comecei a trabalhar como atriz.
Espetáculos marcantes
Os primeiros espetáculos infantis que me marcaram foram do Dilmar Messias e do Nestor Monastério. O Nestor tinha um grupo muito legal e trabalhava com muitas pessoas aqui em Porto. Muitas delas nem trabalham mais com teatro como o Fernando Waschburger e o Fernando Góes. Lembro que eles tinham um espetáculo de palhaços, muito bom, que se chamava Guerreiros da Bagunça. O Dilmar também fazia (e ainda faz) teatro infantil de muita qualidade
Em 1986, começo a namorar o Luiz Henrique Palese, que fazia Artes Plásticas. Encontramo-nos numa peça do Júlio Conte e da Patrícia Cecato. Ele operava o som. Começamos a namorar e num final de semana que fomos para a praia, ele começou a me contar uma história que queria escrever e montar. Pouco depois, conhecemos o Cacá (Ricardo Faria Correa), que é o terceiro fundador. Na verdade, começamos a trabalhar sem a ideia de formar um grupo. Era só um espetáculo, chamava Shandar e o Feitiço de Mungo, cujo texto e produção foram feitos por nós. Mas em junho de 1988, quando a peça estreou, surgiu o Stravaganza.
A opção de montar um infantil não foi consciente. A história que o Palese criou era sobre seres extraterrestres que chamavam Glips. Foi na época do filme Guerra nas Estrelas e ele fazia uma pesquisa com máscaras em látex. Esses seres eram muito lindinhos. Criamos um mecanismo em que eles tinham olhos que brilhavam no escuro. A história era de um herói – Shandar – que tinha que atravessar vários obstáculos para chegar à maturidade, e nesta aventura era acompanhado por esses seres.
Primeiro, escrevemos o texto. O Palese já tinha várias peças escritas no Grupo Faltou o João, com o Beto Mônaco. Isso, na época em que o Asdrúbal esteve aqui em Porto Alegre. Muita gente fez uma oficina com eles e foram criados vários grupos, quando o Asdrúbal se foi.
O resultado do espetáculo foi maravilhoso. Naquela época, em 1988, existiam dois prêmios em Porto Alegre. Um que existe até hoje que é Prêmio Tibicuera, da prefeitura. O Outro era o Prêmio Quero-Quero, do SATED. Nosso espetáculo ganhou vários prêmios, cenário, figurino, iluminação, ator, e inclusive os de direção e melhor espetáculo. Acho que no fim do ano o espetáculo recebeu uns dez ou onze prêmios, o que era uma coisa inédita. O espetáculo era muito diferente do que se fazia na época. Além de um texto inteligente, tínhamos uma produção bem cuidada, e as crianças se apaixonavam pelos seres. Enfim, funcionou muito bem, a gente se empolgou e continuamos trabalhando.
Na verdade, a história do grupo ainda demorou um pouquinho. Fizemos um segundo espetáculo, que era adulto: O Marido era o Culpado, baseado num filme que vimos chamado Armadilha Mortal. É um filme com Christopher Reeve, Michael Caine e a Dyan Cannon. Uma história de mistério, que adoramos. Fizemos um espetáculo totalmente baseado no filme.
Foi no terceiro espetáculo, que todo mundo já dizia que queria acompanhar nosso trabalho. Começaram a falar que tínhamos que colocar um nome no grupo, que isso seria muito bom, mas o nome só veio no terceiro espetáculo, Por um Punhado de Jujubas, uma comédia musical.
Abrimos o dicionário de teatro do Luiz Paulo Vasconcellos, e começamos a procurar e encontramos Stravaganza, que quer dizer um tipo de teatro criado na Inglaterra que une comédia musical e teatro. Como nós também somos de origem italiana, acabamos optando pelo nome.
Estreamos Por um Punhado de Jujubas, em 1990, que é um espetáculo que existe até hoje em nosso repertório, com outro elenco é claro (eu continuo). Shandar tinha muita coisa de poético, lírico e aventura, enquanto Por um Punhado de Jujubas era um espetáculo absurdo, cáustico, uma grande bobagem irônica que inventamos. Resolvemos misturar todas as influências. Criamos uma história muito louquinha que acabava com os mitos. As princesinhas viviam brigando, o ogro e a bruxa em vez de serem maus, eram muito patetas. A Bruxa tinha como objetivo se tornar uma top bruxa. Para isso, ela precisava dois pés esquerdos das princesinhas que eram siamesas. Era tudo muito nonsense, o que é muito comum hoje em dia, mas naquela época não. As piadas atingiam os adultos também. A criança fica encantada. As músicas do Ricardo Severo eram incríveis, e esse espetáculo fez ainda mais sucesso que o outro, O teatro infantil do Rio Grande do Sul começou a ficar abusado, com outros níveis de leituras, para o adulto também.
Jujubas recebeu uns vinte prêmios, porque é um espetáculo que viajou muito. Fizemos uma nova montagem em 2000, que está em repertório até hoje. Como a peça é muito conhecida, voltamos sempre em cartaz e sempre temos público.
Rei Arthur
Resolvemos que nosso espetáculo seguinte seria voltado para a aventura e começamos a trabalhar com a história do Rei Arthur. Fizemos uma longa pesquisa, levamos mais de um ano pra escrever esse texto, lendo tudo sobre o Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Foi um espetáculo que era dirigido mais para adolescentes do que para crianças. Rei Arthur foi nosso quarto espetáculo. Foi muito bem produzindo visualmente e com um elenco enorme.
Já tínhamos um método de trabalho. Todas eram histórias eram criadas por nós e escritas antes de ir para a sala de ensaios. Às vezes, algumas sugestões de mudança aconteciam, mas era raro. O texto ia quase todo pronto, mas algumas cenas pediam uma experimentação, e quando surgia coisa melhor, a gente modificava.
Trabalhamos com o mesmo músico, o Ricardo Severo, que hoje mora em São Paulo. Ele pegava o nosso texto, tirava diálogos inteiros e colocava música. Esse foi um procedimento que a gente levou até a peça seguinte. De tanto interferir no processo, o Ricardo Severo acabava sendo autor também.
Nesse período todos os espetáculos foram dirigidos pelo Palese: Shandar, Jujubas, Rei Arthur, e o seguinte que se chamou Ovo de Colombo. Este também foi uma comédia musical para crianças. Ensaiamos no método tradicional, com marcação, a gente improvisava, mas não da maneira que fazemos hoje. A maior parte já estava pronta, porque o texto já estava escrito. Na verdade a gente fazia noitadas para a criação dos textos. Era assim que a gente trabalhava até o texto ficar pronto. Palese, Cacá e eu, nos reuníamos, falávamos, contávamos piadas e escrevíamos. Sempre foi assim. Quando chegávamos no ensaio, era o núcleo que decidia. Os outros atores, embora fossem os mesmos, não tinham uma participação efetiva na criação do texto e concepção do espetáculo.
Hoje em dia, a gente trabalha muito mais tempo com uma ideia e o caminho é muito mais cego. Porque a ideia é justamente essa, encontrar a linguagem. Fomos criando um método intuitivo e foi dando certo. É importante dizer que tanto eu, quanto o Palese já trabalhávamos com teatro. Eu tinha trabalhado com quase todos os diretores da cidade, inclusive já tinha feito um infantil chamado Greg o Grissauro. Foi um espetáculo dirigido por um colega meu de faculdade. O Palese já havia feito vários espetáculos infantis com o grupo em que trabalhava até então. Ele tinha essa coisa de escrever e ser um artista plástico. O Stravaganza sempre teve um visual muito forte.
O Ovo de Colombo
Já esta peça ganhou bem menos prêmios. Acho que a gente extrapolou e não se aproximou do nosso público, como nos outros espetáculos. O espetáculo era bastante inteligente. Pelo seu conteúdo, deveria ser para crianças de 10 anos e não para um público de 5 a 7 anos, que são as crianças que mais frequentavam o teatro (pelo menos nessa época, aqui em Porto Alegre). Nós estreamos no ano de comemoração dos 500 anos do descobrimento das Américas. E isso foi superinteressante, mas corríamos riscos, porque quando Colombo visitava os outros países, os atores falavam a língua do país e isso direcionava o trabalho para um público já iniciado em línguas. Tanto que após a temporada, nós apresentamos a peça em escolas para um público mais específico e foi o maior sucesso. E como no teatro o público é mais diversificado, a crítica não falou tão bem como dos espetáculos anteriores.
Posteriormente, nós viajamos com o espetáculo para Montevidéu, para duas apresentações. Foi muito engraçado, pois tínhamos uma produtora que estava viajando pela cidade e passou pelo Teatro Solis e se encantou. Esse foi o primeiro espetáculo que tivemos algum patrocínio. Nós chegamos uma semana antes para conhecer os outros teatros, visitar o sindicato de atores, fazer contato com a Associação de Direitos Autorais etc. Isso tudo porque o Solis tinha mil e tantos lugares e precisávamos fazer uma divulgação bem forte para trazer público, o que surtiu um resultado muito positivo. Foi muito bom apresentar um trabalho num país estrangeiro. Nós demos muitas entrevistas, chamamos bastante a atenção, tanto da classe como dos críticos teatrais. Era impressionante, devia ter uns vinte críticos de teatro infantil em Montevidéu. Foi uma experiência muito boa. E quando estávamos sendo entrevistados por uma crítica, ela nos deu a ideia para nosso espetáculo seguinte. Ela perguntou se a gente nunca tinha pensado em montar um clássico. E por causa disso, futuramente, viemos a montar o Decameron.
Experiência com o Teatro Adulto
Na época, o Antunes Filho estava criando a Nova Velha História numa língua imaginária e nós também tínhamos a vontade de criar um espetáculo numa língua imaginária. Pensamos em buscar contos medievais para trabalhar. Fomos até a Biblioteca Pública e lá demos de cara com o Decameron. E encenamos o Decameron em italiano arcaico, o que foi um grande desafio. O pai do Palese, que era italiano, nos ajudou bastante.
A peça começava com a peste negra e a história de sete mulheres e três homens que saíam da cidade onde todos estavam morrendo e se isolavam num castelo, onde passavam dez noites. Nesse período, a cada noite, eles contavam dez histórias que eram escolhidas pelo rei ou pela rainha do castelo. E todas as histórias abordavam temas relacionados com amor e sexo. Nós ficamos um ano trabalhando em cima do texto, aprendendo italiano e improvisando sem estrutura nenhuma. O Palese criou o cenário. Enquanto ele era construído, nós ensaiávamos numa sala da Usina do Gasômetro, colocando marcas no chão. O espetáculo mudou nosso método de trabalho.
Classificação etária
Eu acho que a classificação etária não é bom para o espetáculo, não. Mais adiante a gente até fez um espetáculo que era para crianças bem pequenas, uma peça bem infantil – o Bebê Bum, mas eu acredito que o bom teatro é para todas as idades. Quando eu vi os primeiros espetáculos de Gerald Thomas, tinha um monte de referências que eu não entendia, e isso me instigava demais, eu saía correndo atrás pra tentar entender aquilo. Quando a gente fez Rei Arthur, uma criança falou conosco que tinha visto o filme da Disney e que a nossa história era diferente. E eu respondi que isso era legal porque assim ele iria pensar mais sobre a história, pois o filme da Disney também não contava muitas coisas que contamos em nossa peça. E ele ficou encantado e disse que iria ler mais livros. Por isso que eu digo, se é interessante e legal, mesmo que a compreensão não se dê integralmente, alguma coisa sempre fica.
Duas peças, um só cenário
Naquela época eu acho que havia três grupos que faziam teatro infantil, o grupo do Nestor e o grupo do Dilmar, ambos já trabalhavam na área quando nós entramos. Um ou dois anos depois as nossas produções já eram tão boas quanto. Havia outras pessoas que faziam teatro infantil com qualidade, mas com a mesma constância que a nossa, não. Junto com o Decameron, nós criamos um espetáculo infantil, chamado O Rei Nunca Riu, que usava o mesmo cenário do Decameron, mas era baseado num conto do Ítalo Calvino, em suas Fábulas Italianas, chamado Os Cinco Desembestados. Nós criamos uma história sobre um rei que ia assistir a um espetáculo chamado Os Cinco Desembestados e os atores tinham como missão agradar o rei senão perderiam a cabeça. Foi uma boa estratégia usar o mesmo cenário. No entanto, do ponto de vista da divulgação, o Decameron acabou engolindo a outra peça, por ser um clássico já conhecidíssimo. E eu ficava com pena, pois O Rei Nunca Riu foi um ótimo espetáculo.
Esses dois espetáculos duraram cinco anos, de 1993 a 1998. Nesse período ainda fizemos apresentações em Portugal, com o mesmo elenco nas duas peças. E só paramos de apresentá-los quando a carroça do cenário quebrou, de tanto montá-la e desmontá-la. Como já tínhamos feito uma carreira longa com as peças e estava perigoso usá-la como cenário, achamos que não valia a pena construir uma nova.
Depois, ficamos com uma sensação estranha, dá certo medo bom aquela sensação de… o quê vamos fazer agora? O engraçado é que quando apresentamos em Portugal, disseram que nós fazíamos commedia dell’arte, e o engraçado é que só uma vez havíamos feito um curso rápido de commedia dell’arte. Nós conhecemos essa técnica mais de perto quando viajamos para uma temporada em São Paulo e tivemos aulas com o Joca Andreazza. A partir daí veio o mundo das máscaras, as máscaras nos deixaram enlouquecidos. Tanto que em seguida nós montamos um espetáculo de rua, chamado O Pastelão.
Depois fizemos no Rio, a convite do Moitará, um curso de confecção de máscaras em cartapesta com o Donato Sartori, que certamente é o maior mascareiro do mundo. Em seguida, o Palese foi para a Itália para fazer outro curso de confecção de máscaras de couro com o Sartori. Na volta dele, nós criamos todas as máscaras de um espetáculo mudo que montamos num espaço livre no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre, para o festival Porto Alegre em Cena. A peça era muda, porque não havia condições de ser ouvido dentro do Shopping. Inspirada no universo de Federico Fellini, chamava-se Fellini per Stravaganza. A peça era apresentada à noite, mas durante todo o dia, nós ficávamos mascarados e caracterizados como os personagens fazendo esquetes pelo shopping, escadas rolantes etc. No mesmo período, à tarde, apresentamos um espetáculo chamado Belíssima Comédia para um Arlequim e Dois Enamorados. Este sim foi um espetáculo em que aprofundamos o estudo da commedia dell´arte.
Importância do trabalho infantil e adulto
É válido ressaltar que o espetáculo Por um Punhado de Jujubas é tão importante pra nós no teatro Infantil quanto o Decameron é no teatro adulto. Isso porque são dois públicos completamente diferentes e a gente também é reconhecido pelo público adulto no Jujubas. As pessoas adoram essa peça, ela é uma infantil cult aqui em Porto Alegre. Por quê? Um misto de personagens carismáticos, situações absurdas e belas canções.
Outro grande sucesso nosso foi A Professora Maluquinha, e que foi também a minha segunda incursão como diretora no teatro. Na verdade, foi minha primeira direção totalmente sozinha, pois o Palese não estava nem no elenco como ator.
A proposta da peça foi bem diferente do que já havíamos feito, mesmo porque essa peça era voltada para o público feminino. Eu achei o máximo já quando li o livro. Emocionei-me tanto que cheguei a chorar. Então falei com o Ziraldo e ele autorizou. A peça foi um sucesso e o elenco também estava muito bom. Até o Ziraldo se emocionou quando assistiu.
Para mim, essa peça, segue um mesmo estilo da Bonequinha de Pano, também do Ziraldo, que foi dirigida pelo Dilmar Messias. Existem várias camadas de entendimento. Se o trabalho é preciso em seus conteúdos, não importa que a criança não perceba todos os sentidos, ela terá a sua compreensão.
O trabalho de Clown e a Commedia dell’Arte
Antes de chegarmos ao clown, nós passamos pelo método do Lecoq, que é quando começamos a trabalhar com máscaras neutras, depois passamos para máscaras expressivas, em seguida pela commedia dell’arte, e finalmente chegamos ao clown. Nesse ponto, nós queríamos entrar num outro universo que não tínhamos trabalhado antes. O trabalho de clown tem bastante profundidade e foi uma tarefa bem difícil. É uma técnica que exige treinamento e muita experimentação. Em nosso trabalho de clown, levamos bastante em consideração a questão do silêncio, às vezes tem até mais silêncio que palavras.
É importante ressaltar que não somos palhaços, ou seja, os nossos personagens clown não existem fora dos espetáculos. Para mim, um palhaço de verdade deve estar fazendo aquilo há mais de dez anos. Ser palhaço é o trabalho de uma vida.
Eu não tenho atuado muito. Em Uma Professora Muito Maluquinha eu não atuei, no Bebê Bum também não. Quem ainda dirigia era o Palese, mas como ele estava em cena, a minha assistência de direção era quase a direção. Eu gosto muito de armar o espetáculo, eu adoro o processo de criação, muito mais do que apresentar. Eu fico super-feliz que o espetáculo nunca termina e a gente está sempre mudando. Hoje em dia a gente não vê nada como acabado. Mesmo durante as temporadas, estamos sempre mudando alguma coisa. Essa é uma forma positiva do grupo trabalhar e ter estímulos.
Então, em 2000, fizemos a remontagem de Jujubas, que tinha estreado em 1990. Tanto eu como o Palese, continuamos no elenco nessa nova versão, adicionamos algumas músicas, mas a marcação foi exatamente igual. Este foi o último espetáculo para crianças que montamos. Este ano (2007) nós apresentamos novamente o espetáculo junto com o Bebê Bum.
Período de espetáculos adultos
Em 2001, o Palese fez um espetáculo solo e eu fiz um espetáculo mudo, chamado Encontros Depois da Chuva, que também está em nosso repertório. O espetáculo do Palese chamava-se, Teseu e o Minotauro, que não se apresentou no Brasil, mas em Portugal. Foi uma produção dele e do José Ramalho, que passou um tempo em Porto Alegre e trabalhou com a gente no Encontros Depois da Chuva. A peça foi apresentada em várias cidades do interior de Portugal. Um ano depois, em fevereiro de 2003, o Palese veio a falecer.
Mesmo depois de sua morte, nós resolvemos manter os espetáculos em nosso repertório. Nós tínhamos um espaço – o Studio Stravaganza, que reformamos, pintamos e abrimos para o público. E criamos a peça Teus Desejos em Fragmentos, do dramaturgo chileno Ramón Griffero. Foi uma produção totalmente diferente do que poderiam se esperar da nossa companhia.
A volta das produções para crianças
Em 2007, eu estava em São Paulo e estive com nosso músico, o Ricardo Severo, e falei com ele que gostaria de voltar a fazer teatro infantil, mas eu queria alguma coisa de monstros. Criança, apesar de ter medo, adora monstros. Então ele se empolgou e escreveu um texto muito lindo chamado Ópera Monstra. No momento, nós estamos em fase de captação. A peça é um musical, onde os personagens foram escolhidos a dedo, acho que vai ser um espetáculo bacana. Mas precisamos captar porque é um espetáculo bem caro.
Um panorama do Teatro Infantil em Porto Alegre
O Nestor não tem feito teatro infantil, o Dilmar eu acho hoje a pessoa que mais bem trabalha no teatro infantil. Para mim ele é um excelente diretor. Está com o Circo Girassol, mas tem também um espetáculo muito lindo que são três atores, o Hipnotizador de Jacarés, é um cirquinho com três palhaços, uma graça. Tudo que ele faz é poético, lindo, um exemplo disso é A Bonequinha de Pano.
Em relação ao governo, o município já tem há doze anos um fundo de apoio à produção artística, chamado Fumproarte, e duas vezes por ano é divulgado um edital para inscrição de projetos nas áreas de circo, música, literatura, artes visuais e teatro. Você também pode entrar com projetos de oficinas, de pesquisa, etc, e captar até 80% do valor do projeto. Em nível estadual, temos a Lei de Incentivo à Cultura, mas os eventos e projetos escolhidos são sempre os que têm mais visibilidade para as empresas. É basicamente uma política para eventos.
Para bancar as despesas do estúdio, eventualmente nós alugamos o espaço para algum curso ou oficina de terceiros. E por ser nosso, já é uma vantagem para as temporadas. Raramente fazemos oficinas. Nós resistimos a essa ideia de viver como professor ou fazer outras atividades, pois tiraria nosso foco do processo de criação de espetáculos e projetos. É fundamental estar focado neste momento, que é um dos mais importantes do processo de produção.
Nosso grupo é uma família e nos reunimos muito. Nós temos um Núcleo de Produção que esse encontra para fazer contatos, ver e rever as prioridades da companhia, qual será o projeto seguinte, etc. Agora, por exemplo, estamos nos reunindo direto, pois estreamos A Comédia dos Erros (que já está há quatro meses em cartaz) e já pensamos no próximo espetáculo.
Em 2008 comemoramos vinte anos de companhia e realizamos Mostras de Repertório, onde todas as seis peças estiveram em cartaz: A Comédia dos Erros de William Shakespeare, Teus Desejos em Fragmentos, de Ramón Griffero, Encontros Depois da Chuva, o espetáculo de rua Sacra Folia de Luis Alberto de Abreu e os infantis Por um Punhado de Jujubas e Bebê Bum.
Todas foram apresentadas no Studio, menos Encontros (pois não se adapta ao local) e Sacra Folia, que é de rua. Hoje, a opção é sempre criar peças para o Studio Stravaganza, pois é a nossa casa, nossa identidade, e queremos que cada vez mais, as pessoas associem o espaço ao nosso nome.
Alternativas ao teatro
Se eu não trabalhasse com teatro, provavelmente escolheria trabalhar com o corpo, com Fisioterapia, por exemplo. O Jacques Lecoq começou assim, era fisioterapeuta. Aprecio bastante também a área de Nutrição, acho bacana as pessoas saberem se alimentar melhor etc. Cinema também acho bastante interessante. Mas em nenhum momento deixaria de fazer teatro, porque é uma arte bastante emocionante e tão efêmera e visceral.
Teatro infantil, por exemplo, é algo lindo. É a coisa mais emocionante do mundo, aqueles olhinhos olhando para a gente, querendo se aproximar dos personagens. No teatro para crianças nós temos muito mais noção do retorno do nosso trabalho, pois elas são um público bastante espontâneo, o que torna a comunicação bem mais fácil.
1988 – Shandar e o Feitiço de Mungo, direção de Luiz Henrique Palese
1990 – Por Um Punhado de Jujubas, direção de Luiz Henrique Palese
1991 – A Lenda do Rei Arthur, direção de Luiz Henrique Palese
1992 – O Ovo de Colombo, direção de Luiz Henrique Palese
1993 – O Rei Nunca Riu, direção Luiz Henrique Palese
1995 – O Pastelão, direção Luiz Henrique Palese
1996 – Belíssima Commedia para um Arlequim e Dois Enamorados, direção Luiz Henrique Palese
1997 – Arlecchino, Servidor de Dois Patrões, de Carlo Goldoni, direção Luiz Henrique Palese
1997 – A Comédia do Amor, direção Luiz Henrique Palese
1999 – Bebê Bum, direção Luiz Henrique Palese
2000 – Por Um Punhado de Jujubas, direção de Luiz Henrique Palese
1997 – Uma Professora Muito Maluquinha, de Adriane Motolla, a partir de Ziraldo
2002 – Sacra Folia – Um Auto de Natal Bem Brasileiro, de Luis Alberto de Abreu
2008 – A Comédia dos Erros, de Willian Shakespeare
2010 – Ópera Monstra, de Ricardo Severo
2010 – Príncipes e Princesas, Sapos e Lagartos, de Flávio de Souza
1993 – Decameron, direção de Luiz Henrique Palese
1996 – Fellini per Stravaganza, direção de Luiz Henrique Palese
1989 – O Marido era o Culpado
2001 – Encontros Depois da Chuva, de Adriane Mottola
2002 – Teus Desejos em Fragmentos, de Ramón Griffero
Depoimento daro à Antonio Carlos Bernardes, em Porto Alegre, no dia 07 de dezembro de 2007.