Esperança Mota e Marcelo Serrado fazem o casal de ùltimo Drink uma história previsível em cartaz no Teatro dos Grandes Atores


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 08.03.1997

 

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Apenas como passatempo

O nome sugere título traduzido. Quem, a não ser as grandes damas e os galãs da época em que o teatro era feito para o público, estaria no palco tomando um drink? Um pouco de saudosismo do teatro do divertimento, dá para pensar que no Maison de France o drink seria champanhe e no Mesbla uísque. Daqueles produzidos pelo contrarregra com guaraná ou mate que, quando sacudia a garrafa, fazia muita espuma. Bons tempos.

Último Drink, em cartaz no Teatro dos Grandes Atores, não é o retorno, do teatro perfumado nem das ótimas comédias de situação. Ao contrário, é uma peça que pretende mostrar o comportamento da novíssima geração, num plot que prende a atenção do público, no máximo , por 10 minutos, quando a situação já foi exposta e o que fica em cena é apenas uma repetição sobre o mesmo tema. O mais estranho disso tudo é que o texto em assinatura altamente credenciada.

Regiana Antonini é uma autora das mais competentes, que vem desmentir a tão proclamada crise da dramaturgia. Seus textos, entre outros. Aonde está Você Agora? E, mais recentemente, Futuro do Pretérito, indicado para o prêmio Sharp do ano, são puro deleite para o público. Com uma linguagem completamente atual Regiana toca na memória afetiva da plateia, que se diverte se vendo em cena. Último Drink, no entanto, não faz jus ao talento da autora.

A história totalmente previsível tem direção à altura. Bráulio e Krika são dois jovens que já se conhecem de outros fracassos noturnos. O rapaz tenta manter uma linha tímida romântica enquanto a mocinha já quer saber se mais uma vez ele vai lhe mostrar sua coleção de miniaturas de garrafinhas de refrigerante ou se desta vez é pra valer. O supostamente inusitado da troca de papéis – o caçador e sua presa – apenas reforça o convencional da situação. Alguém ainda se chocaria ao saber que as mulheres tomam iniciativa no jogo amoroso e sexual? Para dar algum conflito à trama são criados quatro personagens de apoio, feitos por uma única atriz, aliás, os melhores papéis do espetáculo, que tem no enredo a função de impedir que o casal fique junto

Num desperdício de talentos, o espetáculo tem ainda direção de Marília Pêra e Gracindo Junior, que exercem suas funções apenas arrumando a cena. Esperança Mota, que já mostrou seu humor em Ciúmes, espetáculo também dirigido por sua mãe (Marília Pêra), não alcança as nuances do trabalho anterior. Marcelo Serrado, um ótimo ator em qualquer gênero de espetáculo que atue desta vez, se vê perdido na exteriorização do personagem. O melhor mesmo fica com Maria Adélia, que tira bom proveito de seus personagens de apoio numa brincadeira caricatural.

Último Drink é um passatempo levemente divertido. Se essa for a intenção, a missão está cumprida.

Cotação: 1 estrela (Regular)