Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 18.07.1993
Empatia com o público jovem
Revivendo a antiga polêmica, tipo cidade contra cidade, sempre estrelada por Rio e São Paulo, a peça Namoro, em temporada no Teatro no Teatro Casa Grande, feita por jovens, é um espetáculo que, inevitavelmente, provoca comparações com o muito semelhante Confissões de Adolescente. Estreado em São Paulo, em maio de 1991 (Confissões é de abril de 1992), Namoro chega ao Rio no auge do sucesso das revelações do diário da atriz Maria Mariana, detonando um estilo de produções jovens, que proliferam nos palcos da cidade com rapidez surpreendente.
Entretanto, se Confissões de Adolescente trata, entre outros temas, de sexo, aborto e drogas, a partir das experiências de suas quatro autoras (Maria Mariana, Ingrid Guimarães, Carol Machado e Patrícia Perrone), Namoro passa suavemente pelo problema, se encarregando apenas de esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto. Em alguns casos, o texto aborda questões tão anacrônicas que parecem só assustar as inocentes mocinhas dos anos 50. O texto de Ilder Miranda Costa, um mineiro de 42 anos, revela uma intimidade nostálgica com os adolescentes da sua geração.
Apesar, de, em alguns trechos, viajar na contramão do tempo, a peça apresenta momentos interessantes, capazes despertar a simpatia da plateia. Três irmãs – Margarida, Stela e Simone – se vêm as voltas com as provas finais da escola, a grana da mesada, o namorado que não liga ou que liga demais, as espinhas, a masturbação, o desengonçado natural da idade, a família e o mundo. Num diálogo ágil, as meninas fogem da “dura realidade” representando no sótão da casa a história da infeliz princesa e suas três lágrimas de amor. Esta inserção do teatro dentro do teatro se revela bastante atraente na encenação.
O diretor Franncis Mayer concebeu um espetáculo ritmado, com cenas de intenso movimento próprias da idade da grande maioria dos espectadores. As quebras da representação no palco, quando as atrizes descem à plateia, são feitas com naturalidade e bom gosto, sem nenhum constrangimento para o público participante
A história é centrada na personagem Simone (Natália Lage), a irmã mais nova e mais esperta, reservando alguma atenção para desinibida Stela (Juliana Martins) e quase nada para a obscura Margarida (Renata Castro Barbosa), mas a qualidade das performances acaba invertendo a intenção do texto. Tirando o melhor do que se costuma chamar uma personagem ingrata, Renata se revela uma atriz cheia de recursos, dando a sua personagem irresistíveis contornos de comicidade, sem desperdiçar os mínimos gestos e falas.
Namoro tem cenários funcionais de Doris Rollemberg e figurinos pouco inspirados de Rosa Magalhães, mas mesmo estes não comprometem a empatia da jovem plateia com o espetáculo. Afinal, a peça foi concebida visando exatamente a esse tipo de público
Cotação: 2 estrelas (Bom)