Personagens bem delineados
brincado e aprendendo.
Foto Beti Niem

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B

Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 25.10.1997

 

 

 

 

 

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Musical com bom resultado

O livro foi lançado há dois anos e, nesse espaço relativamente curto, já ganhou pelo menos duas versões, Mesmo partindo da obra homônima de Ziraldo. Uma Professora Muito Maluquinha, cada versão tem sua adaptação creditada a um autor. Dessa vez não foi diferente. O texto de Elvira Ellena e Vera Novelo chega ao palco como um musical enxutíssimo, feito e refeito durante um ano até receber a aprovação final do próprio Ziraldo. O resultado é compensador.

Ambientado nos anos 40, Uma Professora Muito Maluquinha, em cartaz no Teatro Leblon, é um desses musicais de câmara que dispensam a moldura convencional do estilo. Sem muito adereçamento, sua força está principalmente centrada na performance do ator seguindo à risca a marca da direção. Uma estrada, poderia gerar no palco um espetáculo apenas, no qual a técnica superaria de longe a emoção. A reação da plateia, completamente envolvida com a encenação, é a certeza de que valeu a pena correr o risco.

A história se passa numa cidadezinha do interior, onde uma professora à frente de seu tempo ensina que brincando também se pode aprender. No enredo, todos os contrapontos entre o riso e o siso são feitos com personagens bem delineados e não apenas criados como simples coadjuvantes para a protagonista. O mérito vai para a adaptação, que não se descuidou em nenhum momento da história que tinha para contar. Estão inteiras no palco as lembranças do autor.

Com um texto tão inspirado, o diretor Marcello Caridad cria um espetáculo também pontuado pela emoção. São cenas muito afinadas de canto e dança, que completam a interpretação irretocável do elenco. Caridad, um diretor de ator, investe maciçamente no que faz de melhor, deixando que a linha da encenação se crie naturalmente. E esse é o grande trunfo dos musicais: a ideia de que qualquer mortal pode cantar e dançar como os atores no palco. Uma proximidade que a plateia agradece.

O jovem elenco tem Stella Maria Rodrigues, uma craque em musicais, como a cativante professora maluquinha. Horácio Veter é o Padre Velho, com toda ternura que o personagem exige. André Falcão, com presença marcante por sua bonita figura em cena, consegue diferentes como Padreco, o poeta e o professor de geografia, feito no mais puro estilo Gary Grant. Elvira Ellena é a diretora da escola numa linha quase caricatural, sem que a opção pelo tipo banalize a personagem. Os alunos dessa escola risonha e franca, a grande força da encenação, estão assim formados: Vera Novello (Ana Maria), Eliza Pragana (Regina), Tatiana Telink (Vilma), Sandro Isaack (Manoel), Hiawaltha Rizzi (Silvio), Marcelo Mendonça e Fernando Cardoso (Ivo).

O espetáculo tem ainda música, totalmente integrada ao texto, de Ronaldo Valle, Alfredo Karan, Elvira Ellena, e Vera Novello,para, para as coreografias de Flávia Ventura. Destoando do conjunto, os cenários de João Irênio não causariam nenhum prejuízo se fossem retirados de cena e a caixa preta se fechasse só com a luz competente de Aurélio de Simoni.

Uma Professora Muito Maluquinha é o teatro do prazer para o palco e plateia.

Cotação: 4 estrelas (Excelente)