A separação dos pais modernos em versão musical

 

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 17.05.1997

 

 

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Divertida comédia sobre tema difícil

Papagueno é um personagem de Mozart na ópera A Flauta Mágica. Porém, na peça do mesmo nome as semelhanças param por aqui. Papagueno, texto de Tim Rescala, com direção de Lucia Coelho, em cartaz no Teatro Dina Sfat, é uma peça cheia de agradáveis surpresas, que correndo na contramão dos enredos banais, tem como tema central o casamento/separação, visto pela ótica das crianças.

O tema a primeira vista assustador, que poderia muito bem render mais uma peça cabeça daquelas que fazem a plateia infantil se distrair contando as cadeiras do teatro é, na verdade, uma divertida comédia que, sem perder a intenção do assunto principal, traz ao palco takes risíveis do dia a dia.

O texto de Tim Rescala, montado numa estrutura muito simples, com músicas que fecham cada cena como parte integrante do enredo, conta à história de Júlia, uma menina inconformada com a separação dos pais, que junto com o seu papagaio, o Papagueno do título, planeja de todas as maneiras possíveis, como qualquer criança, à volta do casamento dos seus pais.

Essa moderníssima comédia de costumes, completamente integrada ao conturbado fim de século tem na direção de Lúcia Coelho um achado de sensibilidade ao tratar do tema. Sua concepção de espetáculo investe diretamente no trabalho de ator, ao mesmo tempo que se cerca de parte técnica impecável. Os cenários e figurinos de Cica Modesto, resumem no palco todas as intenções do texto e da direção. A ideia da casa construída de castelos de areia que se deslocam merece destaque.

Em cena, o elenco afinado no tom do humor, faz do espetáculo um momento de raro prazer para o espectador de qualquer idade, sem que para isso tenham que apelar para qualquer gracejo dirigido ao público adulto. Cláudia Mele, é Júlia num gestual perfeito para compor um personagem infantil sem ser infantilóide, Cláudio Mendes se dividindo no papel de pai e namorado, faz comédia com toques de ternura, um elemento interessante na composição de seu personagem. Fernando Santana, o criador e o manipulador do Papagueno está em cena muito à vontade num personagem de ótimas interferências. Finalmente, Alice Borges, ganha a plateia com seu particular humor bem estudado, numa de suas melhores atuações. O espetáculo tem ainda, a luz perfeita de Jorginho Carvalho e música ao vivo interpretada por Tim Rescala e Daniel Garcia. Imperdível.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)