Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 29.11.1997

 

Barra

Programa de auditório tem que ter plateia

A ideia de mostrar os bastidores de um filme, peça ou programa de TV não é lá muito nova. A suposta fascinação que o público comum pode ter nesses eventos é baseada na curiosidade do que realmente acontece fora do olhar do espectador. Fofíssimas Ladies Show, peça em cartaz até manhã no Teatro dos Grandes Atores, não foge a receita.

Inspirada em argumentos de Marcus Montenegro, o texto de Regiana Antonini é sobre um programa de auditório que, mesmo dando apenas traços no Ibope, continua no ar,No palco deste programa, as apresentadoras Fofolinda e Fofobela não são muito diferentes de suas companheiras reais que povoam a programação vespertina das TV’s. O show de variedades tem aula de ginástica, musical com dupla sertaneja, cabine prêmios e até atração especial (de verdade). Os convidados de Fofíssimas já foram, por exemplo, Tande, Lisandra Souto, Vera Loyola. Como bem se dizia, “there’s no people like show people”.

Esse programa de auditório, porém não é só feito de atrações. Na hora do intervalo, asFofíssimas caem na vida real, discutem com o diretor, infernizam vida do cast de apoio, enfim, tiram a máscara, no caso, as perucas, mas tudo continua quase no mesmo tom. E esse talvez seja o elemento complicador do espetáculo, que, ao invés de se aproximar da platéia – como era de se esperar numa simulação de programa de auditório – coloca o público no papel de mero espectador. Um estranho convite, do tipo vem até aqui em casa ver a gente tomar sorvete.

Mas, se a estrutura do espetáculo não foi bem resolvida, a direção de Marcelo Saback para atores e marcação de palco é impecável. As Fofíssimas Cláudia Rodrigues e Ana Borges não deixam o ritmo da encenação cair um só minuto. Marcadas passo a passo, as atrizes mesmo no improviso, quando recebem os convidados especiais, são incapazes de sujar a cena. O difícil movimento de palco complementado pela coreografia de Suely Guerra é o grande achado do espetáculo. Também no elenco, Carolina Pavanelli é uma tração à parte, interpretando diversos personagens até ter a sua grande chance no final da peça.

Em perfeita harmonia com a estética açucarada desse show, os cenários de Alexandre Murucci são todos feitos em pelúcia cor-de-rosa com aplicação de corações de lurex num tom mais forte. As cortinas furtacor e os pufs também de pelúcia cor-de-rosa fecham a cena no melhor estilo Kitsch. Os figurinos de Marcelo Marques seguem a mesma linha fofa além da conta . São balangandãs dos mais inusitados, aplicados em trajes dos mais inusitados, aplicados em trajes que lembram desenhos animados futuristas como os Jetsons. Uma mistura interessante.

Fofíssimas Ladies Show, com trilha musical animada de Bruno Marques e Cristina Bhering, é um espetáculo que está muito perto de conquistar seu público. Mas a aproximação não deve ser feita apenas com algumas interferências de atores que saem do palco para entrevistar a platéia. No caso do assumido programa de auditório, é bom ter a platéia mais participante. Sem platéia, sem show. E, como todos já sabem, o show não pode parar.

Cotação: 2 estrelas (Bom)