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O que eu tenho para escrever sobre Produção Teatral são experiências conquistadas no exercício diário, na minha própria vivência como artista. A necessidade em viabilizar meus projetos e os meus espetáculos, fizeram com que eu descobrisse o caminho das pedras em direção à Produção, um caminho que na maioria das vezes as pessoas não gostam de seguir, pois consideram a produção um trabalho cansativo e complicado. Mas não vejo outra saída, a presença do mecenas que contrata o artista financiando o espetáculo e cuidando de tudo, está cada vez mais distante. Hoje, que quiser fazer teatro, tem que fazer a sua própria produção.

Cada vez mais, nós estamos sendo responsáveis pelo levantamento de um espetáculo. Elaborando projetos, fazendo captação de recursos, negociando com empresas, órgãos públicos e com os meios de comunicação. A produção bem elaborada está se tornando a base principal de um projeto, o alicerce que dá estrutura financeira para a realização do espetáculo.

Mesmo assim, iniciar uma produção hoje, está sendo um ato de resistência. Quem conseguir passar por todas as provas de captação de recursos, leis, patrocínios, apoios, etc., etc… e conseguir chegar até a estreia, é um vencedor.

E não para por aí…a seguir vem a 2ª etapa, que é conquistar e manter o público que está cada vez mais escasso por conta das dificuldades financeiras e também pelo número crescente de opções de lazer principalmente dentro de casa. Opções baratas que divertem a família inteira, como fitas de vídeo, tv a cabo com montes de seriados, desenhos e mais os jogos interativos e a internet, que traz um mundo de atrações prendendo as pessoas durante horas diante do computador, principalmente aos finais de semana, onde o custo é reduzido.

É uma infinidade de apelos incentivando as pessoas a permanecerem muito mais tempo dentro de casa. Com muita oferta e pouco recurso financeiro, o público acaba ficando bem mais seletivo em suas escolhas. Este comportamento já está refletindo em nossas plateias. Precisamos ficar atentos e perceber que além de enfrentar uma maratona para conseguir levantar uma produção e fazer um espetáculo de qualidade, vamos ter que ser criativos ao máximo para estimular o público, a escolher o teatro, entre as inúmeras atrações que o mercado de entretenimento oferece, dentro e fora de casa.

Este mercado está evoluindo rapidamente e é altamente competitivo atuando em várias áreas. Um exemplo são os Parques Temáticos, que já é possível perceber, vai ser a grande tendência dos próximos anos. Estes parques, além de trazer brinquedos de impacto, promovem diversas atividades artísticas como shows, performances, espetáculos de dança e de teatro oferecendo diversão para a família inteira.

De um lado esses empreendimentos abrem campo de trabalho para a nossa área, mas por outro, estes Parques visam atingir o mesmo público que nós buscamos.

Diante deste quadro, vamos ter que investir em nossos projetos com uma postura cada vez mais profissional. O artista tem que mudar a tendência de sair com seu projeto na mão, como se fosse um pires, pedindo ajuda para montar seu espetáculo. Teatro é o nosso trabalho. Um projeto ou a montagem de um espetáculo é o fruto de meses e anos de pesquisa, de investimento. Nós temos que tirar deste trabalho o melhor e dar continuidade à ele, Evoluindo.

Não adianta montar um espetáculo hoje e só daqui há dois ou três anos conseguir fazer outro, quando se consegue… nós temos que criar condições para dar seguimento ao que estamos idealizando como profissionais, como qualquer outro profissional de outra área dá seguimento à sua carreira.

A nossa profissão é fazer teatro, esta é a nossa atividade, nosso ramo de negócio. E o fazer teatral é um excelente negócio.

As empresas estão começando a descobrir as vantagens de investir em arte, de investir em cultura. Este investimento, principalmente em atividades ligadas ao teatro infantil e juvenil traz um retorno muito favorável de imagem, demonstrando um interesse social e educacional na formação das crianças e dos jovens, valorizando assim, a imagem do patrocinador diante da mídia e da sociedade. Isso é muito positivo para a empresa.

Mas aí chegamos nós, com os nossos projetinhos, humildemente pedindo uma verba de ajuda, sem dar atenção à dimensão favorável que significa para a marca da empresa, do investidor, estar ligada ao nosso projeto.

Hoje, o profissional de teatro, não pode ficar se preocupando apenas com o resultado artístico e ter com o planejamento do seu projeto, do seu espetáculo, uma postura amadora. O profissional é aquele que valoriza o seu trabalho e sabe o seu preço diante do patrocinador. Sabe quando ele custa no sentido educacional, social, cultural e artístico.

O teatro abrange todos estes setores, mas geralmente o artista faz o seu preço avaliando somente o custo da produção. E o que vem, além disso? Tem que partir do artista ampliar esta visão para si mesmo e expor ao patrocinador o alcance que o seu projeto, o seu espetáculo pode atingir e favorecer a imagem da empresa. É um excelente negócio que o artista tem a oferecer e deve ir a busca de sócios, de parceiros. É uma relação de igual para igual. Não tem que pedir, tem que negociar.

A verba de patrocínio tem que ser vista como uma negociação, uma sociedade que se propõe ao patrocinador. As duas partes tem que sair ganhando, o artista e o investidor.
Ë puro negócio, não é obra de caridade.

Com o tempo vamos aprendendo como se faz isso, desde a formação do projeto, até as negociações. O projeto tem que ser claro, competente, especificando dados que façam a empresa se interessar em investir. Este projeto vai levar a imagem do patrocinador ao público, à mídia. O patrocinador precisa estar associado de alguma maneira à temática do espetáculo.

É importante o artista relacionar patrocinadores que tenham o perfil do seu espetáculo, não adianta fazer um monte de pastinhas com projetos iguais e sair distribuindo por aí. Cada empresa tem um perfil, o indicado seria elaborar um projeto especial para cada patrocinador.

É bom lembrar que, em algumas ocasiões, este projeto vai disputar uma verba de patrocínio voltada para a área de comunicação. Ele vai ser avaliado com projetos voltados para o cinema, vídeo, música, artes plásticas e uma infinidade de outros veículos existentes nesse setor, senso assim, aumenta a necessidade de se elaborar um projeto personalizado que se mostre atraente o investidor.

O que interessa ao patrocinador é investir em projetos competentes, que possibilitem algum tipo de retorno como: exposição da sua marca na mídia, reconhecimento da sociedade e do público em geral. Visibilidade e retorno de vendas ou imagem institucional.

Mesmo que o espetáculo tenha um porte menor, alternativo ou não interesse ao artista entrar em nenhuma disputa de mercado, mesmo assim, é preciso estar atento ao planejamento de produção para não investir em gastos desnecessários e conseguir um resultado positivo, mostrando seu trabalho ao público com qualidade e profissionalismo.

Se a captação de recursos significar apenas conseguir alguns metros de tecidos na lojinhas do “Seu Mané”, esta negociação já diz respeito à produção e “Seu Mané” deve ficar sabendo que não está ajudando e sim investindo com o nome da sua loja na realização de um espetáculo. “Seu Mane” é um patrocinador e deve toda atenção que uma grande empresa receberia.

Durante uma produção, seja ela de que porte for, existe uma série de mecanismos de negociações que só se aprende na prática, no dia-a-dia, conforme vão surgindo as situações, não tem escola. A necessidade tem que bater na porta e jogar a gente na roda. É só com a vivência e usando a intuição que vamos nos aperfeiçoando nesta arte de criar recursos e levantar uma produção com qualidade, deixando todos os envolvidos satisfeitos: público, artistas e patrocinadores.

Com o tempo a gente vai se habituando às negociações e aprendendo a lidar com este universo empresarial. É um a outra linguagem, uma outra postura nas negociações, bem diferente da postura artística. O patrocinador é racional. O produtor precisa saber transitar muito bem nesta ponte delicada, que tem de um lado a razão do artista, na ótica da sua criação e do outro, a razão do patrocinador na sua ótica de números e visibilidade pública. Saber juntar essas duas expectativas, fazendo disso um bom negócio para os dois lados, é o sucesso de uma produção, que não significa o sucesso do espetáculo.

Graças a Deus, nós artistas, não trabalhamos com fórmulas e ainda somos livres pra criar, acertar e errar. E é pelo direito de ampliar estas oportunidades que nós precisamos nos especializar em nossas produções, abrindo espaço para podermos experimentar, errar e acertar cada vez mais.

Quero dizer aqui os meus parabéns a Teresinha Heimann e toda sua equipe pela primorosa atenção e produção do 3º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau. Saí feliz. Revi amigos antigos e fiz novos amigos que pretendo encontrar em futuras empreitadas de experiências, erros e acertos.

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Luiza Jorge
Atriz e Produtora Teatral em São Paulo.

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 3º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (1999)