O espetáculo tem pouco apoio técnico

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 20.03.1993

 

Barra

Nem sempre o bem-intencionado esforço de retirar o espectador das salas convencionais vale o sacrifício. Pigmalucando, cartaz do Mercado São José das Artes, de Laranjeiras, mostra todas as dificuldades de se montar um espetáculo em espaço aberto, sem oferecer a plateia recompensa que a opção poderia trazer.

O texto de Adriana Lage utiliza elementos bastante interessantes para construir uma boa narrativa: uma estrelinha cai numa fazenda e acaba adotada por seus moradores – o fazendeiro, sua filha e a velha Ba, contadora de histórias. No mesmo cenário surgem um cientista maluco e a bruxa da floresta, que através de suas experiências se encarregam de reformar a natureza, dando pés às minhocas e outras esquisitices. A história, levemente inspirada em Monteiro Lobato – a estrelinha lembra o anjinho que caiu no Sítio do Picapau Amarelo e a reforma da natureza já foi obra de Emília -, acaba tendo seu entendimento prejudicado pela precária estrutura que o Mercado São José oferece a encenação.

Affonso Drumon tenta superar as dificuldades, como a difícil montagem dos cenários e a inexistência de uma mesa de luz, criando situações de passagem de tempo e de lugar através do trabalho dos atores e de uma lona mágica, que se transforma em diversos elementos da natureza: vento, montanha etc. A plasticidade do espetáculo, no entanto, se perde na escuridão, apesar do reconhecido esforço do elenco.

De resto, há de se lamentar que um espaço que até então mantinha a tradição de propiciar a seu público eventos de qualidade, apesar dos contratempos com a barulheira da vizinhança, tenha deixado de oferecer os recursos mínimos de apoio técnico, impedido a plateia por exemplo, de apreciar a sempre competente iluminação assinada por Jorginho Carvalho. Que pena.

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