Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 13.02.1993
O texto é ótimo, mas a encenação nem tanto
O verdadeiro teatro do absurdo que se arma quando se tem que explicar a uma criança como é que ela apareceu neste mundo deixaria pasmo o próprio Ionesco, a quem o estilo é creditado.
O Menino Repolho, cartaz do Teatro Sesc Tijuca, é uma interessante abordagem do tema “de onde vêm os bebês”, já explicitado no título. Alvinho é um esperto infante, atormentado pela mãe na insistência em lhe administrar uma alimentação adequada e conceitos de boas maneiras. O menino acaba por se rebelar e, de castigo, vai para o quarto escuro, onde encontra a solução para a sua tediosa existência: o Escuro (do quarto) e a barata Hecatombe. Os esquisitos seres se revelam muito mais criativos que sua própria família, já que são eles que desbancam a tese mamãe/papai de que as crianças vêm dos repolhos plantados na horta do quintal. Se o texto daria uma ótima história contada, sua montagem é um desafio.
Flávio Freitas, autor e diretor do espetáculo, conduz o enredo com uma certa harmonia até o momento onde enfim o mistério é desvendado, numa bonita cena, ainda que alegórica, do nascimento das crianças. O que poderia ser um final feliz, porém acaba se tornando um anticlímax, quando outra questão é levantada: como é que eu fui parar na barriga da mamãe? – tema que por si só geraria outra peça. O monólogo explicativo acaba diluído no enredo que até então se sustentava, e a mensagem não alcança seu objetivo.
Algumas surpresas, no entanto, aguardam o espectador de O Menino Repolho. Cláudia Rodrigues, no papel-título, faz seu personagem masculino de maneira bem convincente, sem apelar para a caricatura. Andréia Carvana consegue criar uma empatia com a platéia mesmo vivendo uma barata, inseto não muito festejado, e Wilson Rabello dá ao personagem Escuro um tom humorístico interessante. Com alguns ajustes, o espetáculo pode se tornar tão atraente quanto o texto.
Cotação: 1 estrela ( regular )