A peça Michel e o Sonho será encenada amanhã no Museu da República, mas estará mo próximo domingo no Parque do Arpoador

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 02.10.1993

 

Barra

Um conto fantástico no jardim

Como se estivesse lá exatamente para ser descoberto, Michel e o Sonho, é um espetáculo que chegou aos jardins do Museu da República quase que em silêncio. A sorrateira estratégia acabou despertando a curiosidade de uma razoável plateia que sai plenamente gratificada.

Adaptado por Guida Viana, a partir do original de George Neveux Julieta ou a Chave dos Sonhos, o texto conta à história de um livreiro parisiense que volta, três anos depois, a uma cidadezinha de ter estado lá, a uma cidadezinha do interior da França. Para encontrar a dona da voz que, ao cantar uma música, tocou seu coração. Os habitantes da cidade, porém, não têm mais memória, e suas lembranças se confundem com os sonhos.

Trabalhando num espaço aberto, com um elenco de 29 jovens atores, João Brandão e Guida Viana optaram por triplicar as personagens, de modo que elas se apresentem em diferentes pontos do cenário vivo. Assim, não só a plateia é contemplada com uma visão mais detalhada da encenação, como pode visualizar perfeitamente o que está acontecendo através de cenas paralelas, imprescindíveis à plasticidade do espetáculo.

O iniciante elenco, sem uma concha que o proteja, está inteiramente exposto ao olhar do público. A circunstância, aparentemente adversa, acaba tendo um resultado benéfico, na medida em que os atores não desperdiçam um só de seus gestos, mesmo nos momentos de preparação.

Montada como um imenso quadro vivo, a peça se desenvolve, propositadamente ou não, como nos sonhos, onde algumas imagens se repetem e outras se perdem nebulosas, ficando apenas a ideia. O que já não é pouco.

Michel e o Sonho deve ser visto como se lê um conto de Júlio Cortazar. O espectador pode começar a procurar o espetáculo pelo som da música ou pelo burburinho dos atores, e desde o portão do museu. Depois, pode seguir pelos jardins, encontrando finalmente o palco, porém, não significa o fim do percurso. Aliás, só pode ser só o começo.

Michel e o Sonho encerra temporada no Museu da República, com apresentação única amanhã, às 16 h, e no dia 10 será encenada no Parque do Arpoador.

Cotação: 2 estrelas (Bom)