Mozart para crianças – Dom Caixote

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 08.09.2017

Peça sobre Mozart estimula pais a acreditar no talento dos filhos

Destaque do espetáculo da Cia. Dom Caixote é a sua criativa concepção cenográfica

A vida de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), o gênio precoce da música, volta e meia rende um filme, uma peça, alguma obra de ficção. Entre as infantis, já houve, por exemplo, Mozart Moments, do Sobrevento, só com bonecos, e Mozart Apaga a Luz, de Christine Röhrig e Alvise Camozzi, que ousadamente se passava em um cemitério. Em São Paulo, a Cia. Dom Caixote, na Pompeia, criou este ano Mozart para Crianças, com direção e dramaturgia de Luiz Felipe Petuxo e texto escrito em processo colaborativo por toda a equipe.

A escolha da companhia foi pela relação entre o pequeno Amadeus e seu pai, Leopold. Curiosamente, o espetáculo anterior desse mesmo grupo, O Menino Que Perdeu a Lua, também era sobre o amor de um filho pelo pai, mais precisamente sobre as saudades de um filho que perdeu o pai. No caso deste Mozart para Crianças, muitos outros personagens reais da curta vida do compositor aparecem na peça, mas o foco fica mesmo no pai, pois a companhia decidiu que faria um espetáculo para estimular nos pais a confiança nos filhos e nas escolhas que eles fazem.

De cara, o principal a se dizer é que a concepção cenográfica (também a cargo de Petuxo) já é uma das melhores do ano. Não se trata de luxo nem de ostentação. É um cenário simples, bem simples, mas de uma criatividade elevada à máxima potência. Tudo gira em torno de um tapete redondo, suspenso no ar, que, dependendo da posição, define o espaço e o ambiente desejado para a cena. Sensacional.

Com relação ao texto, acho que há trechos que os adultos aproveitam mais do que as crianças. São muito elaborados, meio sisudos. Mas o melhor é que, nos momentos em que se torna inevitável ser biográfico, a hábil solução foi ‘transportar’ esses fatos para as letras das canções, com melodias tiradas das composições mais famosas de Mozart. Em vez de narrar, os atores cantam a vida de Mozart. Funciona bem.

Destaque para a ‘quebra’ brechtiana em que os atores conversam com a plateia, para explicar que o machismo e o autoritarismo do pai, Leopold, são características datadas, importantes para definir uma determinada época, já ultrapassada. Também gosto da cena com referência a Michael Jackson, em que a partitura de Mozart, vista de cabeça para baixo, deixa de ser erudita e vira hit pop dançante. E não falta também na peça um lindo momento romântico, em que Mozart faz um caminho de partituras para sua amada Constance passar. São grandes sacadas cênicas, que valorizam a montagem.

No competente elenco, destaco Vítor Faria, como o pai, e Léo Moura, que faz o papel da irmã de Mozart. São ótimas composições. De quebra, aguarde a linda cena final, com o famoso Réquiem na trilha e o pai manipulando um boneco. Mas, atenção, não leve seus bebês. No dia em que fui, havia alguns, que tiveram de ser retirados da sala, pelas mães, no meio da peça. É Mozart para Crianças, mas não tão crianças assim. (A produção recomenda para maiores de 7 anos).

Serviço

Teatro Cia. Dom Caixote
Av. Pompeia, 1.055 – Vila Pompeia – São Paulo
Telefone: (11) 2645-6937
Capacidade: 42 lugares
Sábados e domingos, às 16h
Duração: 65 minutos
Classificação: Livre (recomendado a partir dos 7 anos)
Ingressos: R$ 60,00 inteira  / R$ 30,00 meia
Temporada: De 1º de Julho a 24 de setembro de 2017