De Cleto e Josie Antello: Shakespeare para crianças.
Foto Flávia Martinez

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 29.05.1993

 

Barra

Uma parceria infeliz

A já comentada quantidade de produções shakespearianas que desaguaram na temporada teatral também está marcando forte presença nos palcos infantis. Recebendo de seus autores, diretores, cenógrafos e figurinistas a adequação necessária a esta faixa do público, as novas versões infantis chegam à cena num atraente concepção, em feliz parceria com o Bardo.

Mas se até o momento as comédias de Shakespeare se revelaram um ótimo veículo para o gênero musical infantil, o mesmo não acontece com A Tempestade em cartaz no Teatro Cacilda Becker. O texto, recriado por Dulce Bressane, embora ressalte o lado aventuresco da história, não recebeu do diretor Daniel Oswaldo os necessários elementos que sustentassem o enredo e lhe dessem o mínimo de unidade cênica.

Com altos e baixos, em sua concepção geral, o espetáculo apresenta uma grande variedade de estilos. Desta maneira, os criativos cenários de Carlos Alberto Nunes, concebidos com eficiência a partir da ampliação, em tecido, de um antigo manuscrito, criam diversos ambientes, que de maneira nenhuma combinam com os figurinos. Assinadas por Denise Karl e Norma Ribeiro, as desiguais vestimentas parecem ter sido criadas isoladamente para espetáculos diversos, ficando o desnecessário toque final com as bijuterias carnavalescas.

Se a técnica carece de um elo de ligação mais forte, o elenco também se ressente de unidade. O veterano Roberto de Cleto não encontra o necessário contraponto a sua exata interpretação do personagem Próspero, a não ser quando contracenam, em pequenos momentos, com a atriz Josie Antello, no papel de Miranda. Já o restante do elenco fica muito mais à vontade do que deveria.

Apesar das dificuldades apresentadas, A Tempestade consegue uma empatia com o nosso público jovem, que despreocupado com o enredo, acaba se envolvendo em brincadeiras muito particulares com os atores, numa visão inovadora da arte de representar.

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