A Rainha Alérgica sob inspiração ecológica. Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 03.04.1993

 

 

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‘Vaudeville’ que brinca com a ecologia

O surto publicitário dos anos 70 lançou, pela TV, uma campanha de dupla mensagem sobre determinadas gelatinas, buscando atingir mães e filhos. Dirigida as primeiras, ela falava das maravilhosas propriedades vitamínicas e proteicas da sobremesa, mas pedia para que não dissessem nada as crianças, porque, enfim, a tal da gelatina era muito gostosa.

A Rainha Alérgica, texto de Tereza Frota em cartaz no Teatro Laura Alvim, tem alguma semelhança com isso tudo. Escrito sob a inspiração ecológica da Rio-92, supera o didatismo convencional da mensagem e o que entra em cena é um delicioso vaudeville. O enredo é cheio de recursos: uma bela Rainha é convencida pelo Duque Rude de que a causa dos seus espirros está nas plantas do reino. Assim, a rainha ordena o desmatamento, piorando consideravelmente a sua alergia. Espirrando cada vez mais, ela assina sem pensar documentos que permitem o Duque construir um enorme shopping Center, onde serão vendidas bolsas de couro de crocodilos e outras atrocidades. Até que finalmente o rei ausente volta ao lar e põe fim as falcatruas do vilão.

A direção de Renato Icarahy imprime ao espetáculo um ritmo bem marcado, sem deixar lacunas, mesmo nas cenas de fundo, onde poderiam acontecer possíveis escorregadelas. A encenação, rica em detalhes, não perde a unidade, e a história flui no palco, prendendo a atenção da plateia até o final. Os cenários de Olinto Mendes de Sá revelam a capacidade do artista de criar coloridos ambientes com mais simples elementos. Também muito criativos são os figurinos de Teresa Frota, que ilustram os personagens sem caricaturá-los. O fecho de ouro fica com a luz de Aurélio de Simoni, pontuada com muito humor.

Num elenco sem coadjuvantes, Henri Pagnoncelli dá um toque de galã sedutor ao vilão, enquanto Teresa Frota mistura a austeridade da realeza com o deslumbramento natural do poder. Raul Serrado faz um ágil Conde Clorofila. Ronaldo Nogueira e Isio Gherman, como Guarda Napo e Guarda Sol, respectivamente, têm os personagens nas mãos e já podem brincar com eles de maneira irresistível. A grande surpresa, no entanto, fica com Fabiana de Mello e Souza e sua Princesa Obesa. A atriz, num de seus melhores momentos, arranca sinceras gargalhadas do público na versão de a médica e a monstra para um conto de A Rainha Alérgica é um espetáculo voltado para as questões ambientais como o desmatamento, o extermínio de espécies e a biodiversidade, e se revela bastante oportuno. Mas, além de tudo, é gostoso.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)