Crítica publicada no O Estado de São Paulo – Caderno 2
Por Tatiana Belinky – São Paulo – 06.09.1986
Adormecida, Bela Como a Bruxa
A Bela Adormecida, apesar de ser um dos contos de fada mais populares do mundo ocidental, só comparável a Cinderela, Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho, teve poucas adaptações para o teatro, aqui entre nós. Por isso, foi uma boa ideia de Tadeu Menezes produzir e encenar essa linda história, com texto e direção do experiente Aziz Bajur.
Bajur, autor de teatro e televisão, tanto para adultos como para crianças, já bem conhecido do público paulistano, optou por uma adaptação bem livre, conservando as linhas principais da história de Perrault, mas inventando bastante em cima dela, tornando-a mais jeitosa para a sua montagem mais compacta. Com sete personagens, várias mudanças de elegantes cenários, figurinos de bom gosto, muito bem pesquisados, adereços interessantes – a varinha de condão da fada solta bolhas de sabão quando acionada e a da fada má solta raios de luz – , música bem selecionada, efeitos de luz e de som, a peça é uma produção caprichada e mesmo rica. E há ainda a participação inesperada de três engraçadíssimos personagens-bonecos, tão bons que quase “roubam” dos atores as cenas em que aparecem, o que não é de espantar, já que Aziz Bajur é um hábil bonequeiro, com longa experiência na televisão, que sabe o que faz, enriquecendo o espetáculo com esse acréscimo.
Bajur também faz o papel do Rei, pai da Bela Adormecida, a princesa Aurora. A fada má da história, a Malévola, é interpretada pela bela e diabólica Ângela Ferracioli, dissociando a maldade da feiura, o que é bom, por motivos óbvios. E o Príncipe que desperta a princesa com o famoso beijo é interpretado pelo próprio produtor, Tadeu Menezes, também ator experiente, e que conta com o necessário physique du role, com covinhas no rosto e tudo. Aliás, há muita gente bonita nessa história: a Princesa é Sandra Mara, conhecida apresentadora de TV – Criança, da Bandeirantes; a Rainha-mãe é Elina Coronado; a Fada Boa é Cely Rolan, e todas se saem bem, sob a direção bem-humorada, mas em ritmo sem “agito” , como convém a um “clássico-romântico”. Também Luiz Siqueira, com sua voz modulada de contador-de-histórias, está bem nos seus dois papéis: um personagem arlequinesco, em chave cômica quando Arauto, e funcionando como narrador, quando apresentador , fazendo a ligação entre cenas e durante os escurecimentos para as rápidas mudanças de cenário.
A Bela Adormecida é um bom programa para o público infantil, que pode ser assistido por crianças de todas as idades, sábado e domingo, e também na sexta-feira à tarde, no Auditório Augusta.