Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 14.06.2013
Um belo resgate de Martins Pena para jovens
Com suas críticas sociais ainda atuais, Judas em Sábado de Aleluia ganha montagem com fôlego para atrair o público adolescente
Bola dentro é a excelente montagem – destinada ao público juvenil – de Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena (1815-1848), pelo Teatro do Núcleo Experimental, na Barra Funda, em São Paulo. Um dos maiores comediógrafos da história da dramaturgia brasileira, Martins Pena se presta muito bem a esse revisionismo voltado para a plateia de jovens, tão carente de espetáculos teatrais. Seus temas sociais continuam valendo bastante neste país de excesso de corrupções e falta de cidadania. Sua ironia mordaz e suas sátiras de costumes funcionam adequadamente como veículos para atrair o interesse dos adolescentes – basta que os encenadores de hoje saibam manter o frescor e a graça do texto, impregnando-os com um ritmo atraente.
É exatamente o que acontece com este belo espetáculo dirigido por dois craques: Zé Henrique de Paula e Fernanda Maia. Não é necessário atualizar a trama, passar a ação para o século 21, descartar figurinos de época – nada disso. Namoricos na janela, malhação de Judas, militares escusos, funcionários públicos descontentes, abusos, falcatruas, traições. Tudo sobrevive aos dias de hoje e pode virar um excelente tema de debate nas escolas, com os alunos comparando as duas épocas e analisando a formação do caráter e dos hábitos do brasileiro. Judas foi escrita e encenada pela primeira vez no ano de 1844. Incrível como o “jeitinho brasileiro” continua o mesmo…
O elenco está magnífico. Difícil separar um ou dois nomes em destaque, pois todos dão conta do tom de comédia popular, sem caírem em caricaturas e facilidades. São eles: Thiago Carreira, Bárbara Bonnie, Priscilla Oliva, Luciana Ramanzini, Tony Germano, Thiago Ledier e Aretê Bellar. O diretor Zé Henrique acertou também na cenografia (simples e eficiente) e, sobretudo, nos figurinos, que encantam com suas rendas, seus fuxicos, retalhos e muitas cores.
Por sua vez, a diretora Fernanda Maia também se esmera mais uma vez na direção musical, função que a tem levado a vários prêmios recentemente. Para este trabalho de Martins Pena, ela pensou num feliz casamento do texto com canções, em sua maioria choros, de ninguém menos do que Chiquinha Gonzaga. São dez canções que se integram perfeitamente à trama, como “Menina Faceira”, “Forrobodó”, “Não Venhas” e a sempre tocante “Lua Branca”. Elas são interpretadas ao vivo pelo elenco, muito afinado, com acompanhamento de três músicos: a própria Fernanda Maia (piano), Beto Sodré (percussão, sobretudo pandeiro) e Flávio Rubens (clarineta).
Vamos lá aplaudir?
Serviço
Teatro do Núcleo Experimental
Rua Barra Funda, 637, Barra Funda – São Paulo
Tel. (11) 3259-0898
Sábados e domingos, às 16 h
Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Até 16/6