Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 13.12.2013

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Minhocão abre uma janela para o humor

Divertida peça do Grupo Esparrama é encenada na sala de um apartamento que dá janela para o elevado

Tomara que não chova. A última chance desta temporada vai ser neste domingo, dia 15, em três sessões: 10h30, 14h30 e 16h30. Você não vai se arrepender de realizar este passeio familiar e teatral pelo Minhocão (Elevado Costa e Silva), que, como todos os paulistanos sabem, fica fechado para veículos e utilizado para lazer a pé aos domingos.

Ali da janela do 3º andar do Edifício São Benedito, localizado no número 158 da Rua Amaral Gurgel, um jovem grupo teatral nos brinda com a intervenção cênica Esparrama pela Janela, com duração curtinha de 30 minutos. É simplesmente uma delícia de assistir. Adultos e crianças vibram, riem, participam e, ao final, aplaudem muito.

A janela fica a cerca de cinco metros de distância do público. E, a despeito disso, incrível! ouvimos perfeitamente o que os atores dizem, sem necessidade de microfone. Há até uma cena que brinca com isso, quando um dos clowns finge estar falando em um microfone gigante.

É ótima a ideia de começar mostrando ao público um dos atores se maquiando na janela do apartamento e, em seguida, ‘instalando’ a cenografia à vista de todos. Assumir explicitamente essa intervenção artística na paisagem urbana ganha status de poesia visual e nos emociona.

O projeto visual da intervenção teve a consultoria de Jaime Pinheiro, cenógrafo e professor do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí. O grupo (Esparrama, criado em 2012 e formado por ex-integrantes da Cia. Circo de Bonecos) nos informa muito apropriadamente: “Foram estudadas formas, proporções e cores que pudessem destacar uma janela entre as centenas que existem ao redor do local da apresentação. Um dos recursos utilizados foi a criação de uma estrutura de janela bidimensional com proporções assimétricas e a função de intensificar o foco do espectador. Este formato, que remete à linguagem de animação, serve de moldura para as máscaras e bonecos de proporções e cores exageradas, intensificando o caráter cômico da peça.”

Tamanha preocupação detalhista com a funcionalidade da proposta poderia ter deixado em segundo plano a dramaturgia, por exemplo. O que não acontece. O texto é bem cuidado, bem pensado e espertamente construído, de forma a estimular a participação do público – isso é fundamental, se pensarmos que é imensa a concorrência da peça com os estímulos sonoros externos no viaduto.

O enredo é uma pérola de comicidade e poesia, contrastando com o caos da cidade grande. Duas velhas fofoqueiras implicam com a vizinha da janela ao lado, a menina “Joyce do 41”, pois a garota vive fantasiando que é princesa, que mora em um palácio e que recebe visitas nobres. O feijão versus o sonho. A realidade contra a fantasia.

Esse enredo tão simples quanto eficiente possibilita que se instaure na janela da pequena Joyce um universo mágico, protagonizado por personagens fantásticos: um palhaço que dá vida ao casaco de sua amada e sai dançando com ele; um seresteiro gigante; um divertido anão esportista dançarino e até mesmo uma família de monstrinhos peludos coloridos, em que o casal se chama Amaral e Gurgel, em referência ao nome da rua.

Para terminar, entra uma singela canção, que nos lembra que nossos olhos também não passam de duas janelas. Não perca. A acertada direção é de Iarlei Rangel e o elenco é formado pelos sensacionais Rani Guerra, Kleber Brianez e Ligia Campos.

Serviço

Minhocão (Elevado Costa e Silva) entre o Metrô Santa Cecília e a Rua da Consolação Acesso do público pelas alças de acesso do Minhocão no Metrô Santa Cecília ou da Rua da Consolação (em frente à Praça Roosevelt)
Último dia: domingo (15), em três sessões: às 10h30h, às 14h30 e às 16h30
Grátis